Pelo passado, pela glória e pela história, André Ventura prometeu este sábado cortar todos os fundos destinados à igualdade de género para os dar às forças de segurança e aos ex-combatentes. No discurso de candidatura a líder do Chega, chamou “traidores” aos membros do Governo por financiarem um museu em Angola.
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À procura do equilíbrio entre o protesto e a responsabilidade de governar, André Ventura lançou este sábado de manhã, na VI Convenção, em Viana do Castelo, alguns laivos do que poderá ser um governo do Chega caso o partido vença as eleições legislativas de 10 de março.
“Garanto-vos uma coisa, aquele dinheiro todo que vamos dar às ideologias de género, supostamente para promover a igualdade de género. Eu vou pegar nesses milhões todos e vou dizer a essas associações todas 'esqueçam que não vão receber um tostão'”, prometeu Ventura.
As verbas serão destinadas a criar “um fundo de apoio às forças de segurança, à justiça e aos ex-combatentes”. Isto “é uma promessa, é quase religioso” e “não vai haver um tostão para essas associações em Portugal”. Ventura calcula que estas verbas sejam 400 milhões de euros, mas neste bolo, segundo o Governo, está também o financiamento do apoio a vítimas de violência doméstica.
Num tom mais patriótico do que nunca, Ventura chamou “traidores” àqueles que, no Governo, decidiram dar 34 milhões de euros do Orçamento do Estado para a construção do museu dedicado à luta pela libertação de Angola. No caso, o memorando de entendimento foi assinado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, João Gomes Cravinho.
“O mais grave é que vamos estar a dar dinheiro para um museu que vai glorificar a história de um combate colonial contra os portugueses. São uns traidores, uns traidores à nossa história e à nossa memória. Se formos Governo, a primeira medida no primeiro dia será impedir esta transferência”, assegurou.
A dois meses de eleições legislativas, o Chega quer crescer e aposta em seduzir os grandes grupos sociais ou profissionais, das forças de segurança aos profissionais de saúde, passando pelos professores, pelos jovens e pelos idosos. Prometeu, por isso, pôr todas as pensões ao nível do salário mínimo no prazo de seis anos.
Ainda nas promessas, afirmou que “nenhum governo de Direita subsistirá e existirá” sem que todas as forças de segurança estejam equiparadas em termos de subsídios. Refira-se que os agentes da PSP estão em protesto porque querem o subsídio de risco equiparado ao da Polícia Judiciária. “Mais vale trabalhar na caixa de supermercado do que vestir a farda, porque não têm nenhum reconhecimento do Estado”, concluiu.
Pedro Nuno “quer voltar ao PREC”
No primeiro dia de congresso, sexta-feira, André Ventura admitiu que os principais adversários são o PS e o PSD. Luís Montenegro não passou incólume às críticas no discurso de recandidatura de Ventura, mas foi Pedro Nuno Santos o mais visado: “Quer voltar ao PREC, à geringonça e aos PCP's desta vida. É o país de 74, é o país do PREC. Já imaginaram o Governo com Pedro Nuno Santos, Paulo Raimundo e Mariana Mortágua?”, questionou, perante as vaias da turba militante.
André Ventura lembrou que Pedro Nuno Santos admitiu repor o tempo de serviço congelado dos professores e, pouco depois, “votou ao lado do PS contra a recuperação do tempo”. Demonstrou “que só sabe governar por whatsapp e mal”, criticando-o ainda por “dar indemnizações de meio milhão de euros quando os portugueses têm salários de tostões”. Quanto ao PSD “já não tem força”, classificou, pois deixou o país “sem alternativa”.
Ao estilo da extrema-direita europeia, o recandidato a presidente do Chega afirmou que quer selecionar os imigrantes que chegam a Portugal: “O Chega nunca disse que queria acabar com a imigração, disse que teria de ser regulada. Nenhuma casa se mantém se não tiver portas e janelas”.
Por isso, é contra “os que vêm para mudar a nossa maneira e a nossa história” ou que chegam “para obrigar as nossas mulheres a andar de burca pelas nossas cidades”, ou ainda “para ajudar a financiar redes de tráfico humano e de terrorismo internacional”. Quer, por isso, “imigração justa, regulada e com regras”.
A eleição para presidente da Direção do Chega ocorre depois de o Tribunal Constitucional ter declarado ilegais as decisões do último congresso, de Santarém, onde Ventura tinha sido eleito. As votações e o anúncio de resultados são este sábado, embora a restante direção só seja eleita no domingo.

