O novo ano é pobre em pontes e fins de semana prolongados, mas vai ser a vacina a ditar a procura e as vendas no turismo. Operadores, agências e companhias aéreas contam com mais movimento depois da Páscoa e perto do verão.
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Numa altura do ano em que muitos portugueses olham para o calendário do novo ano para marcar, estrategicamente, férias e escapadinhas para os 12 meses seguintes, a falta de confiança devido à pandemia está a travar entusiasmos e mantém o setor das viagens e do turismo em suspenso.
Será um ano em que a Páscoa calha mais cedo, o que não ajuda às escapadinhas para Sul, parco em fins de semana alargados e com os feriados de 25 de abril, 1 de maio e 15 de agosto ao fim de semana. O único calendário para o qual hoteleiros, companhias aéreas, operadores e agentes de viagens olham, nesta altura, é o da vacinação.
"Não houve perspetivas de melhoria das viagens no fim de ano. Esperamos que, com a vacina, a Páscoa seja melhor que a deste ano e, no verão, já haja mais movimento. Se for metade de 2019, já é alguma coisa", adiantou fonte da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT) ao JN. "Com todas as restrições nos diversos países, às quais se juntam a falta de confiança dos viajantes, a procura é diminuta. Há sempre quem viaje, mas é absolutamente residual", acrescentou.
Vouchers por usar
As viagens de 2020 canceladas ou adiadas, graças aos vouchers emitidos em massa pela indústria hoteleira, agências de viagens e companhias aéreas, poderão ser remarcadas em 2021. "Mas não conseguimos prever vendas, porque estão a ser feitas a 30 dias", adiantou fonte de uma companhia de aviação a operar em Portugal, que não quer ser identificada por "motivos de mercado".
Na TAP, o movimento das festas baseou-se em "passageiros que vieram visitar os familiares e amigos nesta época, regressando em janeiro". A procura de dezembro foi "crescente", mas não obrigou a voos extra. Apenas se adaptou a oferta "à medida das necessidades através da colocação de aviões de maior capacidade".
A remarcação de viagens em 2021 implicará alguma despesa para as agências e as companhias de aviação, mas a falta de uso dos vouchers pode significar um problema maior: no final do ano, os clientes poderão pedir o reembolso em dinheiro. Tal pode criar problemas de tesouraria às empresas, por isso, há quem esteja a estimular a remarcação com condições muito atrativas. É o caso da companhia aérea SATA, que dá a facilidade na alteração gratuita da data de viagem todas as vezes que o cliente desejar, se o voucher que possui for utilizado na emissão de um bilhete até 31 de março.
"A flexibilidade e o cancelamento sem custos são imprescindíveis para podermos trabalhar neste tempo de pandemia", explicou Nuno Mateus, diretor-geral do operador turístico Solférias. "Também os operadores estão a planear a oferta, com a salvaguarda dos programas poderem ser cancelados sem custos até perto da data de partida", esclareceu ainda.
Ânsia de viajar
Os portugueses estão ansiosos por retomar as viagens pré-pandemia, "sobretudo de maio em diante, portanto, mais focados no verão", explicou Pedro Quintela, diretor geral de vendas e marketing da Agência Abreu. Para garantir as reservas, estão a "criar propostas que oferecem maior segurança às reservas, nomeadamente através de seguros, de sinalizações de baixo valor e de cancelamentos ou alterações sem gastos, até muito perto das datas de partida".
Os destinos mais procurados são de lua-de-mel ("Maldivas, Zanzibar e outras praias exóticas, devido aos casamentos adiados em 2020"), Nova Iorque e Miami e cruzeiros. A Disney continua a ter procura, tal como o Algarve e as ilhas portuguesas e espanholas.
Os principais operadores turísticos portugueses já estão a vender pacotes de férias para o verão de 2021, organizados com voos charter partilhados entre a Jade Travel, Solférias, Soltrópico, Sonhando, Viagens Abreu e Viajar Tours. Os destinos são de médio curso, no Egito, na Tunísia e em Marrocos, estando entre os que os operadores esperam que sejam os primeiros a recuperar viajantes mal a pandemia dê sinais de alívio.
Mas podem não vender e acabar por não se realizar, explicou Nuno Mateus, diretor-geral da Solférias, ao JN: "Temos cláusulas de salvaguarda e também permitimos aos clientes cancelar sem custos até fim de abril. Nos tempos de incerteza que vivemos, é a única forma de trabalhar. Mas não vamos deixar de ter operação para 2021, quer se realize, quer acabe por ser cancelada".
"Acreditamos que, em maio ou junho, deve começar a haver procura para as férias. Não será tanta como em 2019, mas já será o início da recuperação. A oferta deverá ser de cerca de metade da que havia em 2019, agora com flexibilidade para cancelamentos mais perto das datas de partida", acrescentou o responsável da Solférias.