O Dia Mundial do Cancro do Pulmão assinala-se este sábado com renovada e reforçada dose de esperança no tratamento.
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Durante a última década, a inovação abriu caminho a novas opções terapêuticas, que possibilitam um aumento significativo da esperança de vida dos doentes. Com a imunoterapia, por exemplo, os doentes podem ganhar mais três anos de vida depois do diagnóstico.
Se nos primórdios deste milénio a quimioterapia era a única solução, permitindo um incremento na sobrevida dos doentes entre 12 e 16 meses, a realidade é hoje bem diferente. Em 2010, surgem as terapias dirigidas a alvos do tumor, que permitem "estender a sobrevivência global dos doentes para cerca de dois anos, com uma melhoria significativa da qualidade de vida: não induzem enjoos, vómitos, queda de cabelo ou toxicidade sanguínea", explica António Araújo, diretor do Serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Universitário do Porto/Hospital de Santo António.
efeitos laterais ligeiros
Surge, entretanto, a imunoterapia, que alterou o paradigma do tratamento: já não se ataca diretamente o tumor e estimula-se o sistema imunológico a combater as células tumorais. A sobrevida dos doentes sobe para mais de três anos e, "na maioria dos casos, os efeitos laterais são ligeiros ou praticamente inexistentes". No Santo António, estas terapêuticas são utilizadas em cerca de 60% dos doentes.
Nem a todos são aplicáveis. Nas terapias dirigidas, apenas em cerca de 20 a 25% dos casos é possível identificar o alvo, por norma nos não-fumadores. Já a imunoterapia beneficia entre 30 a 35% dos doentes, já que nem todos os sistemas imunológicos reagem contra o tumor. "Nos cerca de 35 a 40% dos doentes para os quais não dispomos de grandes alternativas, passamos a combinar imunoterapia com quimioterapia que, embora tenha alguns efeitos laterais adicionais, permite aumentar a sua sobrevivência", acrescenta.
A grande desvantagem destas novas opções, 100% comparticipadas pelo Serviço Nacional de Saúde, são os custos associados. As terapias dirigidas a alvos de primeira geração custam cerca de mil euros/mês por doente, as de terceira geração entre três e cinco mil euros. E a imunoterapia custa entre quatro a oito mil euros/mês por doente.
A suspensão de quase toda a atividade hospitalar e o encerramento da maioria dos centros de saúde durante o pico da pandemia teve "um impacto muito grande e negativo". Estima-se que, entre março e maio, tenham ficado por fazer cerca de 60% dos diagnósticos.
"E os que foram feitos, na maior parte dos casos, aconteceram em doentes em estádio muito avançado. Acreditamos, por isso, que nos próximos meses haja um aumento acentuado dos diagnósticos, feitos tardiamente e para os quais as opções de tratamentos não são as melhores", acrescenta António Araújo.