O Reino Unido continuou, apesar do Brexit, a ser um país de eleição para os portugueses, que se aproximam do meio milhão de pessoas. Porém, representantes da comunidade lusa relataram ao JN uma nova vaga de regressos a Portugal, incluindo de jovens e trabalhadores qualificados que mudaram o perfil dos emigrantes, mas que não conseguem aguentar o aumento do custo de vida naquele país. Em Londres, capital escolhida para comemorar o 10 de Junho, Marcelo Rebelo de Sousa ouvirá, sexta-feira e sábado, as queixas da comunidade.
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Por estar doente, António Costa vai faltar às comemorações oficiais do Dia de Portugal, que começam em Braga, e será substituído pelo ministro dos Negócios Estrangeiros. O seu gabinete diz que testou negativo à covid-19.
Após as cerimónias de Braga, a comitiva estará ainda esta sexta-feira em Londres, onde irá encontrar-se com a comunidade portuguesa que não deixará de relatar as dificuldades que enfrenta.
De médicos a artistas
Aos efeitos provocados pela saída da União Europeia, no início de 2020, somou-se a crise pandémica, que já levou portugueses a procurar refúgio e apoio no seu país natal. Agora, o custo de vida foi agravado pela guerra, estando o Reino Unido entre os países europeus que mais ajudam a Ucrânia.
A comunidade lusa "é composta por mais de 400 mil pessoas", com "especial incidência na área metropolitana de Londres", segundo dados enviados ao JN pelos Negócios Estrangeiros. Já nas contas de Gabriel Fernandes, primeiro conselheiro das Comunidades Portuguesas no Reino Unido, são entre "400 a 500 mil".
Madeirenses são os mais antigos
O ministério nota que "a maior parte é recente". Já o núcleo mais antigo e significativo é de origem madeirense. A maioria, sobretudo entre as primeiras vagas de emigrantes para o Reino Unido, dedica-se à agricultura, construção civil, comércio e restauração.
Mas os mais recentes da comunidade são jovens qualificados, como médicos, enfermeiros, arquitetos, investigadores, académicos, profissionais ligados à área financeira ou às artes, desportistas e também estudantes.
O retrato vai ao encontro dos relatos de Augusto Nunes, presidente do clube português "A Família". Ao JN, destacou que "a maior parte da emigração" para o Reino Unido "já não é de baixa escolaridade", mas de "muita gente com formação académica". E "muitos estão a regressar" porque "o custo de vida subiu bastante", também comparativamente a Portugal, enquanto "os salários estagnaram".
"País sofre de três males"
"A habitação para jovens é caríssima, não só em Londres, mas em todo o país", explicou. Eletricidade, transportes e bens essenciais também resultam em gastos insuportáveis, diz Augusto Nunes. E "um cabaz que custava 80 libras custa agora 120 ou 130, mais devido ao Brexit" do que à pandemia e à guerra, refere o dirigente associativo.
Por sua vez, o ex-conselheiro Gabriel Fernandes diz que "há portugueses por toda a parte, mesmo nos locais mais recônditos". E confirma que a comunidade é agora mais qualificada. A sua filha formou-se em Economia a 30 quilómetros de Londres e trabalha num banco de investimento. Mas as coisas não estão fáceis. Hoje, o país "sofre de três males: Brexit, pandemia e efeitos da guerra".