Longe vão os tempos em que a praia da Vieira era marcada pela presença de centenas de pessoas que se estendiam por uma imensidão de areia. Ali cabiam ainda as redes de pesca, bem estendidas, e os barcos para a faina.
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Etelvina Gomes Fonte lembra-se bem desses tempos. Concessionária há 33 anos, recorda-se de ter 220 barracas no areal para alugar. Agora "tenho 80 e nem sei se as consigo alugar todas. A praia está cada vez mais pequena" assegura Etelvina, 58 anos.
A construção de um molhe a sul da lota - que iria fazer com que a norte a praia passasse a ter mais areia - é defendida por todos os habitantes como fundamental para a sobrevivência da praia da Vieira. "Desde 1991 que andam a prometer o molhe e ainda nada foi feito", refere Etelvina, garantindo que o projecto "está aprovado". "Mas dizem que ainda não há dinheiro", acrescenta.
"Enquanto não fizerem o molhe, vamos continuar a andar com o coração nas mãos", admite, adiantando que, "com um areal mais largo, sentíamo-nos mais protegidos".
As marés de Inverno são sempre as mais perigosas e as que preocupam mais. Há ocasiões em que muitos vieirenses nem dormem. As noites são muitas vezes passadas com os olhos pregados no mar, dado o cenário de incerteza em que vivem.
"A única coisa que nós queremos dos políticos é a construção do molhe e a despoluição do rio Lis. Não queremos mais nada. Se eles fizerem isso, então ficamos muito bem" remata Etelvina Fonte.
Os avanços do mar
Damaso Letra, 55 anos e José Ramusga, 61, encostam-se ao paredão, junto à lota. Ali observam o mar e tentam perceber quando poderão regressar à faina. "O mar tem vindo a avançar muito. Desde há 50 anos já deve ter avançado mais de 100 metros para terra" refere Damaso, assegurando que "há alturas que o mar está aqui encostado no paredão".
José concorda e fala nas areias que são "cada vez mais moles" e por isso não se seguram . "Antigamente eram mais rijas, agora não estão seguras e são rapidamente levadas pelas correntes", frisa. O molhe, admite José "iria ajudar a praia e protegeria as pessoas".
O aumento do areal, segundo alguns pescadores, permitiria continuar a prática da Arte Xávega. "Mas já nem temos areia para colocar os barcos" lamentam.
Mais a norte da vila, junto à foz do rio Lis, a situação alterou-se no último ano. Com a diminuição de um dos molhes - que acompanha o rio na sua entrada no mar - a praia acabou por perder ainda mais areia. Hoje são poucos os que optam por escolher aqueles locais para banhos de sol.
A par das alterações da praia, a Vieira sofre ainda com a poluição trazida pelo rio Lis, e que em certas ocasiões, acaba por poluir o mar. Hoje em dia, a situação está bem melhor, mas só com a conclusão da despoluição da bacia hidrográfica do Lis, o problema estará definitivamente solucionado.