Crescimento expectável de casos diários não dispensa monitorização, defendem os especialistas.
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Um mês após a abertura quase total do país, no passado dia 1 de outubro, o crescimento de casos diários de covid-19 e a possibilidade de se atingir um pico de infeções durante o inverno levam os peritos, ouvidos pelo JN, a defender uma monitorização contínua da situação epidemiológica no país. Da análise feita poderá resultar a discussão sobre o ajuste de medidas e o alargamento da terceira dose.
"A situação atual é de diferentes velocidades nas regiões e nas faixas etárias", afirma o matemático Carlos Antunes. O investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa explica que, com a taxa de vacinação de 85,9% e a manutenção de medidas preventivas, os surtos de covid-19 podem ocorrer, mas "encontram barreiras". "O vírus, quando entra, não tem capacidade de proliferar de forma exponencial", acrescenta, referindo-se aos lares de idosos.
Na semana passada, Marta Temido, ministra da Saúde, afirmou após a reunião do Conselho de Ministros que o reforço vacinal nestas estruturas residenciais estava "praticamente" concluído.
Se Portugal tem um bom ponto de partida, com 85,9% da população com vacinação completa, o índice de transmissibilidade acima de 1 (1,08) não pode ser encarado de ânimo leve. "A situação é expectável, mas tem de ser prevista, dada a dinâmica da pandemia", defende a pneumologista Raquel Duarte ao JN.
O mesmo se passa com um possível ajuste das medidas de restrição contra o SARS-CoV-2, que deve ser equacionado perante a evolução dos dados epidemiológicos. Miguel Castanho, imunologista do Instituto de Medicina Molecular, não estranharia que houvesse um recuo no desconfinamento no "pico do inverno ou antes dele".
Situação pode piorar
"Nós não estamos numa marcha irreversível de melhoria, pode piorar. E se piorar, não é um drama, voltamos a ter medidas defensivas", refere o investigador, que aponta a necessidade de uma maior fiscalização na lotação e ventilação de espaços interiores.
As previsões do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge dão conta de que, a 7 de novembro, Portugal possa chegar aos 1300 novos casos/dia. O matemático Carlos Antunes acredita que o país não irá além deste número, nem "chegue aos quatro ou cinco mil" infeções por dia, como aconteceu no passado. "Temos uma cobertura vacinal que nos permite chegar ao limbo, à fronteira entre epidemia e endemia", aponta.
Quanto a um possível alargamento da terceira dose da vacina contra a covid-19 a outras faixas etárias - atualmente está a ser administrada a partir dos 65 anos em Portugal -, o tema é "prematuro" para Raquel Duarte. A médica salienta antes a necessidade de inocular toda a população mundial, para evitar a transmissão do vírus e o aparecimento de novas variantes.
Por seu lado, Miguel Castanho diz serem precisos mais dados para comprovar um reforço vacinal no resto da população, até porque não basta conhecer "o nível de anticorpos". Os estudos serológicos apontam para a descida nos valores, passados alguns meses.
De acordo com último relatório das "linhas vermelhas", os jovens dos 20 aos 29 anos registam a incidência mais elevada. Um facto pouco surpreendente, já que foram os que, no último mês, tiveram o seu convívio "ampliado", com a reabertura de bares e discotecas, disse Carlos Antunes. O matemático refere que o reforço vacinal pode passar inclusivamente pelos mais novos.
Reforço vacinal para quem tomou Janssen?
Carlos Antunes, investigador da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, disse ao JN que há estudos a registar uma "maior suscetibilidade ao vírus" no grupo "específico que são os homens jovens", entre os 18 e os 25 anos, que foram inoculados com a vacina da Janssen. A menor efetividade é uma das razões apontadas. O matemático prevê que a DGS tome uma decisão sobre o reforço vacinal.
Pormenores
Regiões
Lisboa e Vale do Tejo e o Centro são as zonas do país a contribuir para a subida do índice de transmissibilidade (Rt), de acordo com cálculos de Carlos Antunes.
Alerta até dia 30
O estado de alerta vai continuar até às 23.59 horas de 30 de novembro. O matemático defende que esteja em vigor durante todo o inverno.
Um milhão de Janssen
O número de doses administradas da vacina Janssen em Portugal superou um milhão (1 125 269). O regulador dos EUA aprovou a 20 de outubro a dose de reforço da vacina em pessoas com mais de 18 anos.