Vigília junta dezenas de ciclistas no Porto: "Vemos condutores muito zangados"
A vigília para assinalar o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada juntou dezenas de utilizadores de bicicleta no jardim do Marquês, no Porto, este domingo. A iniciativa ficou marcada pela divulgação de uma petição, que defende o limite de 30 km/hora dentro das localidades. Prevê-se que o documento chegue à Assembleia da República apenas no próximo ano.
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Sandra Alves usa uma bicicleta, todos os dias, com uma espécie de atrelado, para se deslocar na cidade do Porto. Com ela, seguem os filhos de sete e dois anos. Este domingo, foi uma das dezenas de pessoas que se juntou à vigília do Porto, que assinalou o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada. A iniciativa, que decorreu em várias cidades portuguesas, teve outro propósito: o lançamento de uma petição para a redução da velocidade para 30 km/hora nas áreas urbanas.
Mário Alves, presidente da Estrada Viva, rede de associações de defesa da mobilidade segura e sustentável, prevê que o documento não seja entregue antes de março de 2022, devido ao "hiato de poder na Assembleia da República", motivado pela ida às urnas em janeiro, nas eleições legislativas. A meta é ficar entre as 2000 e as 7500 assinaturas, mas o responsável não define um número final. Até ao momento, reúne cerca de 500 nomes em dois dias.
No mesmo dia, em que dezenas colocaram sapatos numa passadeira do Porto, em homenagem às vítimas mortais da sinistralidade, o presidente da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária (ANSR) alertou para o número de mortes nas estradas que equivale à queda de "três aviões", "todos os anos".
"Continuamos a conviver com esta pandemia [da sinistralidade rodoviária] com alguma tranquilidade e, efetivamente, cabe a cada um de nós, cabe a todos nós, zelar pela proteção das nossas vidas, das pessoas que amamos e vão connosco no carro e dos outros", disse Rui Ribeiro, em Évora.
Também o Ministério da Administração Interna emitiu este domingo um comunicado a assumir a segurança rodoviária como uma prioridade e "um desígnio nacional". De acordo com dados da ANSR, entre janeiro e agosto deste ano, registaram-se 242 vítimas mortais e 1261 feridos graves.
Agressividade na estrada
As vigílias não deixaram de notar outros problemas para os utentes mais vulneráveis, entre eles, os utilizadores de bicicleta. "Vemos diariamente condutores muito zangados, com eles próprios e com quem circula" na via, defende Sandra Alves, de 47 anos.
A bicicleta com um atrelado e, por isso, de maior dimensão do que a generalidade permite-lhe ser "mais visível" na estrada. Ainda assim, reconhece, as cidades não estão pensadas para as ciclovias. "As manobras não são fáceis", apontou a residente do Porto ao JN.
Também Stef Michielsens, belga de 53 anos, com um negócio de recolha e entrega ecológica de mercadorias em bicicleta, disse ao JN ter "discussões na estrada todos os dias" com condutores de automóveis. "Sentem que estamos a tirar o espaço deles".
A associação Mubi, que organizou a vigília no Porto, defende que "não bastar mudar lei" para 30 km/hora, sendo necessárias mais medidas como "passadeiras elevadas" e outros desenhos das vias, explicou a coordenadora Vera Diogo.