"Vamos continuar a lutar e nunca vamos desistir. Nas nossas veias corre sangue livre." A promessa foi deixada, domingo à noite, por Júlia Gregoreva, representante da comunidade ucraniana em Leiria, durante uma vigília pela paz, que juntou centenas de cidadãos da Ucrânia, de Portugal e do Brasil, na Praça Rodrigues Lobo.
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Júlia Gregoreva acusou o presidente da Rússia, Vladimir Putin, de desrespeitar os direitos humanos, de querer decidir pelo povo ucraniano e escolher quem deve governar a Ucrânia, através da "linguagem da ameaça".
"Putin está disposto a isolar o seu país só para satisfazer a sua obsessão", afirmou a representante da comunidade ucraniana em Leiria. "Morrem civis, morrem crianças, porque os ataques não são só dirigidos às infraestruturas militares, mas também a casas e a hospitais", denunciou.
Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria, garantiu que o Município está sempre disponível para ouvir e para apoiar os imigrantes ucranianos. "Queremos aprofundar a nossa ligação e que sintam que fazem parte da nossa comunidade de uma forma plena."
Após uma curta intervenção, em que anunciou a criação de um gabinete de acompanhamento da crise na Ucrânia, o autarca também atacou o presidente russo. "Putin mostrou que é um líder frio, calculista, que não está à altura do seu povo."
"Obrigado, Portugal"
"Estamos ao vosso lado. Contem connosco. Força! Viva a Ucrânia", disse Gonçalo Lopes, afirmações a que os ucranianos presentes responderam, em coro, com um "obrigado, Portugal", enquanto agitavam bandeiras da Ucrânia, distribuídas por todos, tal como velas.
António Lacerda Sales, secretário de Estado Adjunto e da Saúde, eleito pelo círculo de Leiria, justificou a sua participação na vigília pela paz, promovida pela comunidade ucraniana e pelo Município de Leiria, com o facto de condenar todas as violações dos direitos humanos.
"Atacar hospitais e civis é uma violação dos direitos humanos, e é mais do que suficiente para estar aqui", explicou Lacerda Sales. "Portugal está ao lado do povo ucraniano e disponível para colaborar na resposta às suas necessidades, em tudo o que for necessário."
"Nem consigo dormir. Sei o que é ter medo. Já perdi o meu filho", garante ao JN Lídia Matskovska, de 53 anos, residente em Leiria há 21 anos. Determinada a apoiar o seu povo à distância, promete que amanhã se vai oferecer como voluntária na recolha de bens.
Mulheres fazem "cocktails molotov"
Entre os familiares que vivem na Ucrânia, apenas a sobrinha de Lídia Matskovska quer fugir para Portugal com os filhos. "Os homens estão na guerra e as mulheres estão a ajudar a fazer cocktails molotov, para bater no agressor", explica.
"Putin não quer a Ucrânia na Nato, quer matar o nosso presidente e governar o nosso país", acredita a imigrante ucraniana. Denuncia ainda que muitos deputados corruptos, apoiantes do regime russo, fugiram para outros países, porque sabiam que Putin ia invadir a Ucrânia. "Têm riqueza, porque roubaram o dinheiro do povo. A Ucrânia é muito rica, temos terras boas e as pessoas são trabalhadoras."
Apesar de se verem manifestações de cidadãos russos contra a invasão da Ucrânia, Lídia Matskovska garante que as televisões não falam no que se está a passar, pelo que diz que há muita gente na Rússia que não sabe, como constatou depois de falar com um primo residente neste país.
"Putin é muito poderoso e quando mete uma coisa na cabeça ninguém o para. Estava na idade de se reformar", observa Olena Hurchiy, 51 anos, a viver em Leiria desde 2003. Presente na vigília pela paz em solidariedade com o seu povo, revela que já mandou bens para a Ucrânia, por intermédio de outras organizações. "Houve outras ações na Batalha e na Marinha Grande."
Esperançada na resolução do conflito, Olena Hurchiy explica ao JN que toda a sua família vive em Portugal, mas tem colegas de escola e amigos na Ucrânia. "Comprámos para mandar para lá roupas, botas, coisas de higiene, álcool, água oxigenada, ligaduras e conservas, porque, se calhar, não têm condições de aquecer comida", explica.
Com a duração de cerca de uma hora, a vigília pela paz iniciou com um momento de oração, a que se seguiram algumas intervenções, em português e em ucraniano, e, no final, houve cânticos em ucraniano. As bandeiras do país e as velas eram visíveis por todo o lado, tal como cartazes de apoio ao povo invadido e de condenação a Putin.