O vinho é o isco para atrair turistas para cidades e vilas do país. São sedes de concelho cuja economia, em maior ou menor escala, assenta na produção do néctar de Baco. Depois dele, há outros produtos agrícolas, gastronomia, património natural e edificado para os prender por alguns dias, contribuindo para o desenvolvimento de negócios locais.
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É para solidificar este objetivo que trabalha a Associação de Municípios Portugueses do Vinho, que faz 15 anos em 2022. Tem 91 filiados em todo o país, incluindo a Madeira e os Açores. E vai continuar a crescer.
José Arruda, secretário-geral da associação, diz, ao "JN Urbano", que está convencido que "trabalhar em rede" é o caminho para "promover os territórios", quer seja com programações próprias, ou com os eventos que os municípios organizam em conjunto.
A iniciativa anual "Cidade do Vinho" é das que têm contribuído para promover concelhos e regiões. É o que tem estado a fazer Pinhel, na área vinhateira da Beira Interior, que, devido à pandemia e à impossibilidade que ela criou de cumprir todo o programa, vai continuar com o título até 2022.
O presidente da Câmara de Pinhel, Rui Ventura (PSD), não se mostrou disponível para falar do assunto, esta semana, por ainda não ter tomado posse para novo mandato. Todavia, por ser o concelho que mais vinho produz na Beira Interior, Pinhel tem um peso importante na promoção da marca e da qualidade dos néctares ali produzidos.
"Cidade do Vinho" 2019 projetou a Régua
O autarca de Peso da Régua, José Manuel Gonçalves (PSD), que também acaba de ser reeleito, tem uma experiência bem diferente do que é organizar a "Cidade do Vinho". Coube-lhe apenas em 2019 e cumpriu um programa de eventos de um milhão de euros. Admite que "nunca se falou tanto de vinho na Régua como durante esse ano". Um sinal de que o título e do que se realiza ao abrigo dele fazem mexer.
A cidade reguense foi a primeira da Região Demarcada do Douro a ser eleita pela Associação de Municípios como "Cidade do Vinho". Foi uma oportunidade que o município aproveitou para "promover e valorizar o produto que é a base da economia da região". Noutros tempos, a cidade desempenhou um importante papel como entreposto comercial e centro de serviços ligados à atividade vitivinícola. É lá que se situa a Casa do Douro e a sede do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. Mas nas últimas décadas, perdeu influência comercial, tornando-se apenas num importante ponto turístico da região.
Carta europeia de enoturismo
A dinâmica da promoção com base no vinho atravessa as fronteiras portuguesas através da RECIVIN. É a Rede Europeia das Cidades do Vinho, que tem 12 anos de existência e agrega mais de 600 cidades. Como o nome indica, José Arruda salienta que o objetivo é "trabalhar em rede". Acrescenta que "existem cidades como as nossas em França, Itália e Alemanha, por exemplo, que fazem o seu trabalho, mas depois pretendem que haja interligação da oferta turística com as cidades de outros países".
Há cerca de 15 anos, a RECIVIN criou a Carta Europeia de Enoturismo que definiu uma oferta que pretende "desmistificar a ideia de que o enoturismo é só visitar adegas". Ora, a trabalhar de mãos dadas com outras regiões, concelhos e cidades vinhateiras, o menu "não só tem adegas, como também restaurantes, hotéis, unidades de turismo rural, museus e eventos". Todo este conjunto de ofertas é promovido como um pacote. O vinho é o tema principal, sim, mas tem outras sugestões que "fazem com que as viagens se tornem interessantes também para quem não consome vinho", vinca Arruda. Em Portugal, exemplifica o secretário-geral da associação, "pode-se estar no Porto ou em Gaia e ter vontade de visitar o Douro, onde o vinho, efetivamente, se produz".
Tal como todos os anos há uma "Cidade do Vinho" em Portugal, também há uma "Cidade Europeia do Vinho". Alenquer e Torres Vedras ostentaram o título em 2018. "Em 2023, a distinção caberá novamente a uma cidade portuguesa", assegura José Arruda, pelo que algumas já estarão a preparar a corrida.
O presidente da Câmara Municipal de Peso da Régua, que também é vogal da Associação de Municípios Portugueses do Vinho, garante, ao "JN Urbano", que tem a ambição de apresentar, durante a primavera do próximo ano, uma candidatura para conquistar o galardão em 2023. Mas a sua ideia é que a titular não seja apenas a sua cidade. "Pretende-se que abranja a Região Demarcada do Douro". Poderá, por exemplo, salienta José Manuel Gonçalves, "ser a Comunidade Intermunicipal do Douro (19 municípios) a liderar a candidatura, numa lógica de promoção do território como um todo".
Já há quem venha de vários pontos do Mundo tendo como referência a Associação de Municípios Portugueses do Vinho
O autarca duriense está certo que a reboque do vinho serão promovidas as quintas que já possuem oferta de enoturismo, museus, monumentos, hotelaria e restauração, e outros pontos de interesse da região. "Para o Douro é fundamental", torna José Manuel Gonçalves, pois "tem uma especificidade muito própria", que é a de ser "a região demarcada e regulamentada mais antiga do Mundo".
Gonçalves refere que "já há quem venha de vários pontos do Mundo tendo como referência a Associação de Municípios Portugueses do Vinho e que depois "passam, nomeadamente, pelos concelhos do Douro que já fazem parte desta rede". Apesar disso, José Arruda assume que é difícil contabilizar quantos turistas vêm a Portugal exclusivamente pelo vinho.
Um estudo realizado em 2016 pela Universidade de Aveiro conclui que o enoturismo está em crescimento no país e que os enoturistas passaram de 11,4 milhões em 2005 para 19,1 milhões em 2015. Permanecem, em média, três noites e geram receitas que, em 2005, eram de um milhão de euros e, em 2015, 1,9 milhões de euros.v