O Observatório da Violência no Namoro recebeu 440 denúncias em cinco anos. Trata-se, em média, de cerca de sete queixas todos os meses desde 2017, sendo que 18,9% das vítimas necessitaram de recorrer a tratamento médico na sequência dos episódios de violência. Ainda assim, cerca de 76% não apresentaram queixa nas autoridades competentes. É, por isso, "um crime subreportado e, por isso, subintervencionado".
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As conclusões foram apresentadas ontem, no mesmo dia em que foram conhecidos os dados do Estudo Nacional da Violência no Namoro no Ensino Superior. Mais de metade dos universitários já sofreram este tipo de violência e cerca de um terço admite ter praticado.
"As percentagens de vitimação e perpetração de violência no namoro são, de facto, muito sugestivas. Significa que estamos a falhar na prevenção. Toda a estratégia de prevenção tem de ser reforçada", alertou Sofia Neves, presidente da Associação Plano i, frisando ainda que a "violência no namoro é precursora de violência na idade adulta".
Os dados do Observatório Nacional de Violência no Namoro mostram que, as 440 queixas recebidas entre 2017 e 2022, foram feitas, sobretudo, por ex-vítimas e testemunhas. Os casos de violência reportados ocorreram, sobretudo, no Porto, Lisboa e Braga.
Olhando para o perfil das vítimas, a esmagadora maioria são mulheres, estudantes, heterossexuais e com uma média de idades de 23 anos. Já os agressores são, na maioria, homens e têm uma média de idades de 24 anos. Os ciúmes e o consumo de álcool ou de outras substâncias por parte do agressor são algumas das causas que motivaram os episódios de violência.
Já o estudo de violência no namoro em contexto universitário contou com 4 696 participantes, sendo que a esmagadora maioria eram mulheres. Mais de 53% dos universitários foram sujeitos a, pelo menos, um ato de violência no namoro e 34% já praticaram. A violência psicológica e económica apresenta percentagens de vitimização mais elevadas nos homens. Já a violência social e sexual, bem como a perseguição têm níveis de vitimização superiores nas mulheres. Cerca de 9% das vítimas já foram forçadas a ter relações sexuais e "quem pratica e quem sofre tende a ter crenças de género mais conservadoras".