Urgências e internamentos hospitalares com incidência acima do normal do Vírus Sincicial Respiratório. Há vários bebés e recém-nascidos ventilados.
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O aumento das doenças respiratórias, causadas por vários vírus e, em particular pelo Vírus Sincicial Respiratório (VSR), está a pressionar as urgências e internamentos de pediatria. Em Braga e em Gaia, há quadros clínicos mais graves do que o habitual associados ao VSR, que estão a implicar a ventilação de crianças e bebés. Hospitais de Lisboa, Porto e Coimbra também sentem a pressão. Há ainda pneumonias graves, meningites e tuberculose nos serviços de pediatria, mas estas estarão ao mesmo nível dos anos pré-pandemia.
O VSR, que pode causar doença grave nas crianças com menos de cinco anos e que pode ser especialmente agressivo nos bebés menores de um ano, entrou em circulação fora de época, em pleno verão, dando sinais de que o ano seria diferente.
Já está a ser e a antecipação da terapêutica preventiva, de outubro para setembro nos grupos de risco, não foi suficiente para conter a corrida às urgências.
"Antecipámos a profilaxia para setembro porque se assiste a uma circulação intensa do vírus e com quadros clínicos graves. Isto é uma realidade nacional, todos os serviços estão a ser afetados por isso. Em Braga temos crianças pequenas e recém-nascidos com essa infeção respiratória e com necessidade de ventilação invasiva e não invasiva", afirmou ao JN Almerinda Pereira, diretora do Serviço de Pediatria do Hospital de Braga.
No Hospital de Gaia, também há crianças internadas com infeções graves causadas pelo VSR, "não só recém-nascidos e crianças com poucos meses, mas também algumas mais velhas", referiu Maria Graça Ferreira, diretora do serviço de Pediatria/Neonatologia de Gaia. A situação era expectável porque os períodos de confinamento interferiram com a normal circulação dos vírus.
Três mil internamentos/ano
"No ano passado, não tivemos este vírus e, por isso, criou-se uma bolsa de crianças mais suscetíveis", explica Inês Azevedo, pediatra do Hospital de S. João, admitindo que esta é a patologia pediátrica que mais preocupa atualmente.
O VSR é responsável por cerca de metade dos internamentos por bronquiolites e pneumonias nas crianças, cerca de 2500 a 3000 internamentos anuais, realça, sublinhando que "o internamento é apenas a ponta do icebergue". "Estamos a sentir sobrecarga no internamento e nos serviços de urgência, mas sempre com capacidade de resposta", remata Inês Azevedo.
Em Lisboa, no Hospital D. Estefânia, a infeciologista Maria João Brito fez um retrato do internamento à Lusa: "Tenho crianças com meningite, tenho crianças com tuberculose, tenho crianças com VSR, tenho crianças com doença pneumocócica grave e tenho doentes internados com covid (...) e estamos ainda numa altura em que não está muito frio".
Também no Hospital Pediátrico de Coimbra registou-se "nos últimos meses um número de infeções por VSR fora do habitual nesta época do ano", com os internamentos a ocorrerem mais em crianças no primeiro ano de vida.
No último mês, afirmou a direção do Serviço de Urgência daquele hospital, houve também "algumas pneumonias complicadas", mas ainda não há evidência que permita dizer que o número é superior ao de outros anos.
Folhetos
Hospital de Braga aconselha pais a resguardarem os bebés
A preocupação com a elevada incidência do vírus sincicial respiratório e o aumento dos casos graves levou o Hospital de Braga a produzir e distribuir folhetos informativos aos pais para que tomem medidas de prevenção, especialmente com os recém-nascidos. O "resguardo dos bebés pequenos", evitar visitas de muitas pessoas, e cuidados redobrados com os irmãos quando regressam da creche ou da escola são alguns dos conselhos, informou a diretora do Serviço de Pediatria, Almerinda Pereira. Também o Hospital de S. João tem procurado informar os pais para estes cuidados, referiu a pediatra Inês Azevedo. Alguns dos cuidados são idênticos aos adotados para combater a pandemia de covid-19, como a lavagem frequente das mãos e evitar contactos diretos e beijinhos de pessoas menos próximas com os bebés.