Uma delegação de 20 viticultores do Douro vai na terça-feira a Lisboa manifestar ao presidente da República a angústia e revolta por não conseguirem vender as uvas e pedir o seu apoio para deixarem de empobrecer a cada ano que passa.
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A delegação é constituída maioritariamente por viticultores de Ervedosa do Douro, em São João da Pesqueira, que desde julho têm vindo a protagonizar protestos na rua contra a crise instalada na região duriense, por falta de interesse na compra da produção pelos habituais clientes e pela prática de preços baixos.
Esteve marcada para a passada sexta-feira uma manifestação de agricultores na sede daquele concelho, por ocasião de uma visita ao concelho do chefe de Estado. Porém, foi cancelada na sequência do acidente de um helicóptero no rio Douro, entre a Régua e Lamego, que vitimou mortalmente cinco militares da GNR.
Assim, foi Marcelo a convidar os viticultores a irem esta terça-feira, pelas 16 horas, a Lisboa. Durante uma reunião que decorreu no cineteatro de São João da Pesqueira foi constituído o grupo que se desloca à capital.
As duas dezenas representam muitos mais que ficam na região a torcer para que do encontro com Macelo Rebelo de Sousa resulte alguma esperança. Pelo menos que o chefe de Estado possa exercer alguma influência junto do Governo para que sejam aceleradas medidas já anunciadas ou em análise.
O mais recente anúncio foi feito em Carrazeda de Ansiães pelo ministro da Agricultura e Pescas, José Manuel Fernandes. Foi pedido ao Instituto dos Vinhos do Douro e Porto para que averigue se é legal e economicamente viável a produção de vinho do Porto exclusivamente com aguardente vínica da Região Demarcada do Douro.
A produção de aguardente no Douro para o vinho do Porto é vista com a medida que teria, no imediato, mais efeitos no combate à crise. Maior fiscalização à entrada ilegal de uvas e mostos de outras regiões e países e a definição de um preço justo são outras reivindicações para que compense manter a atividade.
Joaquim Monteiro, viticultor em Ervedosa do Douro e um dos promotores da petição “Salvem os viticultores do Douro”, que já contabiliza mais de 1400 assinaturas online, afirma que “não se podia perder a oportunidade” de reunir com Marcelo Rebelo de Sousa. “Estamos tão em cima das vindimas, alguns até já começaram, e com a necessidade de cortar as uvas para não as deixar nas videiras, que mesmo tínhamos de ir a Lisboa”, vinca.
Os agricultores preferiam que o encontro tivesse ocorrido no Douro, uma região que “nunca foi unida”, segundo Joaquim Monteiro. “Tenho 71 anos e lembro-me de ser sempre assim”. Por isso é que têm sido os produtores de Ervedosa do Douro, em São João da Pesqueira, os que mais têm levantado a voz contra o empobrecimento de quem trabalha a vinha.
O presidente da Câmara Municipal de São João da Pesqueira, Manuel Cordeiro, vai também a Lisboa integrando a delegação e diz que desde o início esteve ao lado dos viticultores. É que “há famílias inteiras sem ter onde colocar as uvas” e “em breve haverá muitas sem pão para colocar na mesa”.