Produtores e comerciantes reivindicam ao Governo devolução de 10,3 milhões de taxas pagas pelo setor para salvar a região.
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O Douro pode estar à beira de uma "crise brutal" se o Governo não devolver 10,3 milhões de euros à região demarcada onde se produz o vinho do Porto, para financiar medidas de minimização do impacto da pandemia. As profissões (produção e comércio) estão desiludidas com a falta de respostas.
António Saraiva, presidente da Associação de Empresas de Vinho do Porto, representante do comércio, é perentório: "Só precisamos que o Governo devolva os 10,3 milhões de euros gerados pela região: uma parte para apoiar a destilação de vinhos, outra para criar uma reserva qualitativa e outra para a promoção, de modo a evitar a crise dramática que já está anunciada!"
Aquele montante é o saldo de gerência do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). "São receitas do setor resultantes de taxas cobradas sem qualquer contrapartida para a região", sublinha António Lencastre, presidente da Federação Renovação Douro, representante da produção.
O Conselho Interprofissional, órgão do IVDP onde produção e comércio debatem as políticas para o setor, exige que o Governo "autorize a descativação" daquele saldo. "Que melhor altura para o utilizar do que agora?", questiona Rui Soares, presidente da Associação de Vitivinicultores Profissionais do Douro (Prodouro), que representa 1100 agricultores.
Ajudas ao armazenamento
As profissões esperam ser recebidas nos próximos dias pela ministra da Agricultura para discutir a reivindicação. Também querem provar que o pacote de medidas no valor de 15 milhões de euros, anunciado no dia 19 deste mês, para apoiar o setor dos vinhos em Portugal, nomeadamente os 10 milhões para financiar a destilação de 300 mil hectolitros de vinho de mesa, "não serve" e é "uma gota de água".
António Saraiva rotula a medida de "absurda", pois no caso do Douro "é preciso certificar o vinho e pagar taxas ao IVDP para depois o destilar para combustível, o que é uma aberração total". Lencastre critica que tenha sido atribuído "um valor de 40 cêntimos por litro" que "nem sequer é para a produção". O apoio é dado ao destilador e, uma vez que "não é para gerar aguardente", Saraiva acredita que "nem ele o vai conseguir valorizar, nem o vai pagar sequer a 40 cêntimos", quando o valor justo seria "o dobro".
Rui Soares já temia que isto pudesse acontecer, por isso nunca viu a destilação de crise como uma prioridade. A viticultura de montanha no Douro tem preços de produção muito mais elevados que outras regiões. "Se as adegas têm em stock vinhos das últimas colheitas, com qualidade muito acima da média, vamos destilar vinhos caros e de boa qualidade, que não tem prazos de validade curtos, só para que não haja excedentes no mercado?" Daí que considere mais importante "haver ajudas ao armazenamento".
A dois meses da vindima e sem medidas específicas para o Douro, o maior receio na região é uma baixa do benefício (quantidade de mosto que pode ser transformado em Porto), o principal rendimento do viticultor.