Vítimas de abusos sexuais dizem que os apoios da Igreja são “esmolas”
Um ano depois da apresentação do relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica Portuguesa, a associação que representa as vítimas de abusos pede mais eficácia à Conferência Episcopal Portuguesa (CEP).
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“Os bispos falam do perdão e de reparação, mas não concretizam nada”, disse ao JN António Grosso, presidente da associação Coração Silenciado. “Nos últimos meses houve uma ligeira evolução no tratamento dado às vítimas, mas o pagamento de consultas médicas e de comprimidos são apenas uma esmola e nós defendemos o pagamento de indemnizações”, referiu ainda. Também Nuno Caiado, um dos subscritores da carta aberta enviada, em 2022, aos bispos portugueses e que despoletou a criação da comissão independente, esperava mais da hierarquia católica. “A CEP deu um passo muito corajoso ao criar a comissão mas depois não soube aceitar o estudo final e ainda agora tem dificuldade em perceber o fenómeno”, afirmou ao JN.
D. José Ornelas, presidente da CEP, defende que a Igreja está no caminho certo. “O que sempre nos importou foi a atenção concreta às vítimas de abusos”, referiu o bispo que deu a cara pela criação da comissão independente e, posteriormente, pelo Grupo Vita que agrega as denúncias de abusos e o acompanhamento das vítimas. “Temos a perceção que a credibilidade da Igreja Católica foi afetada pelo impacto do estudo mas também acreditamos que o caminho que temos vindo a percorrer, quer nas Dioceses, quer nos Institutos de Vida Consagrada, é fruto de um compromisso sério da nossa parte para garantir a ‘tolerância zero’ em matéria de abusos nos nossos espaços”, afirmou, numa entrevista à Lusa.