Não deverá sobrar um "rosto" na Direção do PSD depois da vitória "expressiva" de Luís Montenegro (73%), que atingiu os 100% em 18 secções do partido e ganhou 22 dos 23 círculos eleitorais. Jorge Moreira da Silva apenas saiu vencedor em 40 das 316 estruturas locais do partido. Mas o resultado histórico em diretas disputadas não garante a Montenegro que não pode acabar por ser um líder de transição.
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Com a chegada de Montenegro ao poder, dois anos depois de ter desafiado Rui Rio em diretas, esperam-se mudanças profundas na Direção do partido, carregada de nomes próximos do presidente do PSD que cessa funções no congresso de 1, 2 e 3 de julho no Porto.
Apesar de já ter dito que tenciona integrar apoiantes de Moreira da Silva e poder ter ao seu lado alguns "rostos" associados a Rui Rio, como o seu mandatário da Juventude (João Pedro Luís, que foi escolha pessoal do líder em funções para encabeçar a lista por Portalegre nas legislativas de janeiro), é de esperar que Luís Montenegro se rodeie de homens da sua confiança.
Na noite eleitoral, o próprio líder eleito já sublinhou alguns nomes, como o de Pedro Duarte, diretor da primeira campanha de Marcelo Rebelo de Sousa e um dos principais impulsionadores da sua candidatura.
Mas Luís Montenegro destacou ainda o seu diretor de campanha, o ex-eurodeputado Carlos Coelho, e o líder da JSD, Alexandre Poço.
Afastados de regresso
A vitória "expressiva" de Montenegro (73% contra 27% de Moreira da Silva) pode levar também ao regresso de alguns "rostos" afastados por Rui Rio, como o de Hugo Soares, que o líder em funções não quis que continuasse à frente do grupo parlamentar quando foi eleito sucessor de Pedro Passos Coelho, em 2019.
Na mesma linha, encontra-se António Leitão Amaro, vice-presidente da bancada do partido durante a liderança de Hugo Soares, que marcou presença na noite eleitoral de Luís Montenegro e foi um dos seus principais apoiantes. Entre aqueles que estiveram desde a primeira hora ao seu lado - e que poderão agora ganhar maior protagonismo no partido - está Paulo Cunha, o líder da distrital de Braga, que foi diretor da campanha de Montenegro, quando obrigou Rui Rio a disputar uma inédita segunda volta nas diretas de 2020.
"Eu vou ser candidato"
Apesar de ter feito o pleno das secções em quatro distritais (Lisboa, Madeira, Portalegre e Évora) e de ter conquistado 100% dos votos em 18 estruturas locais, Montenegro não afastou o risco de poder vir a ser um líder de transição.
É que, Jorge Moreira da Silva admitiu, ao assumir a derrota, que poderá voltar a concorrer, apesar de apenas ter ganho em 40 das 316 secções do partido. Em duas teve 100%: Cuba e Constança. "Eu vou ser candidato a primeiro-ministro", reagiu Luís Montenegro.
O recém-eleito líder do PSD conquistou a vitória em 22 de 23 círculos eleitorais, numas diretas em que se verificou um empate em nove secções do partido.