Saúde Alunos carenciados do Agrupamento de Escolas do Cerco, no Porto, realizam segundo rastreio à visão. Mais de 60 foram remetidos para consultas de Oftalmologia.
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Os irmãos Ariana e Igor querem muito usar óculos. Ela tem oito anos e ele tem 10. Os dois andam na Escola do Lagarteiro, um dos estabelecimentos do Agrupamento de Escolas do Cerco, no Porto, onde um grupo de 175 alunos foi sinalizado para realizar um rastreio à visão. É a segunda ação do género a ocorrer no agrupamento, este ano letivo, promovida pela Fundação Vision for Life Essilor, em parceria com a Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.
A mãe, Carmen Soares, não sabe o porquê de os filhos quererem tanto os óculos, mas talvez "gostem de os ver na cara", atira. Ariana diz que "fica muito fixe". O irmão Igor não esconde a desilusão após a consulta na carrinha móvel do projeto. Ambos têm uma visão saudável e não precisam de qualquer auxílio para ver.
O mesmo não acontece com Yasmine, de 9 anos, que tem miopia e astigmatismo. Das 62 crianças remetidas para consultas de Oftalmologia, 27 vão precisar de usar óculos, que são oferecidos pela Essilor. "Ela já tinha consulta marcada no hospital", afirma a mãe, Mónica Barreiros, ao JN. Aproveitaram para antecipar o diagnóstico na escola.
Sinalizadas pela escola
A progenitora não foi surpreendida pela má visão da filha. "Ela lacrimejava muito, coçava muito os olhos e já se tinha queixado", aponta. Dos dois médicos oftalmologistas, que voluntariamente fazem as consultas no projeto, levou a recomendação de não deixar Yasmine passar mais de duas horas por dia em frente a ecrãs, como computadores ou telemóveis.
A aluna do Lagarteiro não gostou das novidades. Demorou muito tempo a escolher os óculos na banca da Essilor e confessa ao JN que não os queria usar. Mas agora "tem de utilizar diariamente". "Só tira para ir dormir", refere a mãe Mónica, já depois de longos minutos a convencer a filha de que tudo lhe ficava bem.
O segundo rastreio à visão nas escolas do Cerco - o outro ocorreu em outubro - abrange "todas as crianças carenciadas, que são sinalizadas pela ação social escolar, nos escalões A e B" do 1.º Ciclo. Margarida Barata, diretora de marketing e filantropia da Vision for Life Europa da Fundação Essilor, afirma que o projeto vai avançar num agrupamento de escolas, em Lisboa.
Depois da entrega dos óculos aos alunos que deles necessitem, a fundação pede à escola para saber se as crianças estão efetivamente a usá-los e se foram registadas alterações no comportamento fora e dentro das salas de aula. "Essa análise qualitativa é importante".
As mudanças já foram registadas pela professora Mónica Silva. "Em dois alunos que fizeram o primeiro rastreio e não usavam os óculos, noto as diferenças". A docente revela que a concentração e o interesse nas matérias melhoraram num mês. "Muitos chegam ao 4.º ano sem nunca ter visitado um oftalmologista".
Atividades ao ar livre são aconselhadas
Catarina Ferreira e Sidnei Barge, dois dos médicos oftalmologistas voluntários no rastreio do Cerco, afirmam que os "erros refrativos", que pressupõem a necessidade de graduação, são as dificuldades de visão mais registadas nas crianças. Ambos recomendam menos tempo passado em frente a ecrãs de telemóveis e tablets, e aconselham mais atividades praticadas ao ar livre, para não usar tanto a visão de perto.