Não sabem como serão as convocatórias nem como chegar a quem não tem médico de família. Vacinação de doentes com mais de 50 anos começa na próxima semana.
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A vacinação do grupo prioritário que inclui as pessoas com mais de 50 anos e determinadas patologias que agravam o risco de mortalidade por covid-19 arranca na próxima semana, anunciou a ministra da Saúde.
O processo decorrerá nos centros de saúde, mas no terreno ainda há muitas dúvidas. Desde logo, falta saber como vão ser feitas as convocatórias, em que centros de saúde vai decorrer a vacinação e como se chega aos utentes que não têm médico de família ou são seguidos no setor privado. Na próxima semana, começa também a imunização dos titulares de órgãos de soberania; e até ao final de março serão vacinados os idosos com mais de 80 anos, prometeu Marta Temido.
Neste momento, os centros de saúde estão a validar as listagens que foram extraídas centralmente dos sistemas informáticos com informação clínica dos centros de saúde e dos hospitais. Nessas listas, constam os nomes dos utentes com mais de 50 anos e que estão codificados como tendo doença coronária, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e doença pulmonar obstrutiva crónica. A validação pretende detetar eventuais erros e omissões, explicou ao JN o presidente da associação que representa as unidades de saúde familiares (USF-AN), Diogo Urjais.
A poucos dias de se iniciar a vacinação daquele grupo, que integra a primeira fase do Plano de Vacinação contra a Covid-19, Diogo Urjais lamenta que ainda faltem muitas respostas. "Não temos ainda informação de como os utentes vão ser convocados e ainda há dúvidas sobre os utentes sem médico de família e os que não frequentam o Serviço Nacional de Saúde", afirmou. Também ainda não foi comunicado às unidades onde será feita a vacinação, acrescentou. Tendo em conta as especificidades da vacina da Pfizer, quanto ao armazenamento e aproveitamento das doses, é "imperativo" que o processo seja centralizado, escolhendo um centro de saúde por agrupamento ou por concelho para vacinar. Mas ainda não há informação que permita esclarecer os profissionais e os utentes, referiu.
Sobre os doentes seguidos no privado, está previsto que apresentem no centro de saúde uma declaração do seu médico assistente a comprovar a patologia para agendar a toma da vacina. "Mas quem vai validar estes atestados? Isto também ainda não está explicado", adianta.
Autarcas prioritários
A ministra da Saúde detalhou que, até ontem, foram imunizados 160 mil utentes e profissionais de lares de idosos e unidades de cuidados continuados, prevendo-se que a vacinação nestas estruturas termine esta semana, com exceção das unidades onde há surtos de covid-19.
Quanto aos profissionais de saúde, referiu que, até ao final do mês, serão vacinados 100 mil do Serviço Nacional de Saúde (SNS), do INEM, do Instituto Ricardo Jorge, do Instituto Português do Sangue e da Transplantação, do Hospital das Forças Armadas, do Instituto de Medicina Legal, dos estabelecimentos prisionais e dos hospitais privados e do setor social, que recebem doentes covid-19 em colaboração com o SNS.
Na próxima semana, começa também a vacinação dos bombeiros afetos à emergência pré-hospitalar, forças de segurança e dos titulares de órgãos de soberania, mas ainda não está totalmente definido quem está neste grupo. Os autarcas - por serem autoridades de Proteção Civil nos seus concelhos - poderão vir a ser enquadrados, admitiu a ministra Marta Temido.
"Censura social" para desrespeito das regras
A ministra da Saúde entende que deve ser a "censura social" a prevalecer em situações de toma indevida da vacina, como as que aconteceram com o presidente da Câmara de Reguengos de Monsaraz e o presidente da Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez.
Marta Temido disse que já foram discutidos "mecanismos" para a avaliação de situações de desvio às regras de vacinação de acordo com os grupos prioritários. Esses mecanismos serão para garantir que estas situações são evitadas e, acontecendo, são objeto da necessária censura, disse.
O que já se sabe sobre a vacinação
Quantas vacinas já chegaram a Portugal?
Desde o final de dezembro até ontem, chegaram a Portugal 411 mil doses de vacinas (da BioNTech/Pfizer e Moderna), que foram distribuídas pelo continente e ilhas. Até às 19 horas de domingo, foram realizadas mais de 255 mil inoculações.
Quantas mais estão para chegar?
Ontem chegaram 99 450 mil doses da Pfizer, informou a ministra da Saúde. Está também prevista a entrega no domingo de 10 800 doses da Moderna.
Qual a próxima vacina a ser aprovada?
Espera-se que a vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford com a Astrazeneca seja aprovada na sexta-feira pela Agência Europeia do Medicamento, passando a ser a terceira vacina autorizada na União Europeia. Estava previsto que Portugal recebesse 1,4 milhões de doses deste laboratório entre fevereiro e março, mas a farmacêutica já avisou a União Europeia que está com problemas na produção e que terá de cortar em cerca de 60% as entregas previstas até ao final do trimestre aos estados-membros. A Comissão Europeia está a pressionar a empresa para cumprir o acordado.
A vacina protege contra as novas variantes?
A empresa norte-americana Moderna anunciou ontem que a sua vacina contra a covid-19 mantém a eficácia contra as variantes britânica e sul-africana, consideradas mais contagiosas e já detetadas em Portugal. Segundo a empresa, "é esperado que o regime de duas doses" da vacina "proteja contra as estirpes emergentes detetadas até à data", ainda que a proteção seja menor na estirpe sul-africana. A Moderna adianta que, "por precaução", está a desenvolver uma "variante de reforço" da sua vacina contra a estirpe sul-africana e que irá testar "uma dose adicional de reforço" da vacina para avaliar "a capacidade de aumentar ainda mais os títulos neutralizadores contra estirpes emergentes".
Quem são os próximos a ser vacinados?
No início da próxima semana, começam a ser vacinadas as pessoas com mais de 50 anos e patologias que podem agravar o internamento e mortalidade da covid-19 (doença coronária, insuficiência cardíaca, insuficiência renal e doença pulmonar obstrutiva crónica), que representam cerca de meio milhão de pessoas e também fazem parte da primeira fase do plano. Paralelamente, iniciar-se-á a vacinação dos bombeiros afetos à emergência pré-hospitalar e profissionais dos serviços essenciais, onde se integram os titulares de órgãos de soberania. A primeira fase inclui também profissionais das Forças Armadas e forças de segurança. E ainda, de acordo com a última atualização do plano, todas as pessoas com mais de 80 anos, que ainda não tenham sido vacinadas no âmbito dos outros grupos prioritários.