A Confederação Nacional das Cooperativas Agrícolas e do Crédito Agrícola de Portugal (Confagri) considera que o Plano Estratégico da Política Agrícola Comum (PEPAC), que estará em vigor a partir deste ano e até 2027, é "mais complexo", "burocrático" e, "na prática, trará menos ajudas" para o setor. A Confagri acredita, ainda, que o programa "não vai de encontro aos interesses dos setores agrícolas nacionais" e defende "algumas revisões".
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Com mais de seis mil milhões de euros destinados à promoção do investimento e do rejuvenescimento do setor agrícola, o PEPAC será um dos temas centrais no 9.º Encontro Nacional de Técnicos, promovido esta quarta e quinta-feira pela Confagri.
"Relativamente a este PEPAC, há duas ou três certezas que tenho: é um programa mais complexo, mais burocrático e que, na prática, para o grosso dos agricultores e dos setores, trará menos ajudas. É um programa em que a componente mais ambientalista se sobrepõe à componente produtiva e, na nossa perspetiva, isso é um erro", afirmou Idalino Leão, presidente da Confagri, recordando que "Portugal é um país deficitário na sua balança comercial, no que toca aos bens agroalimentares".
Custos com energia
Idalino Leão defende algumas alterações ao programa. Dá, como exemplo, "a componente dos ecorregimes", que prevê "remunerar agricultores que adotem uma série de boas práticas", como o bem-estar animal e a redução dos antibióticos. "Tudo conceitos que estamos de acordo. O problema é a forma como são desenhadas as regras para os agricultores terem acesso a estes ecorregimes. Achamos que muitos agricultores não vão conseguir aceder", explicou.
"É hora da agricultura ser assumida por quem nos governa como um desígnio nacional. Pela percentagem do território que representa, pelo que faz e pelo que ainda pode fazer. Haja condições e vontade política para tal", frisou.
De acordo com Idalino Leão, um dos desafios que o setor enfrenta é a perda de competitividade, nomeadamente face a Espanha onde o gasóleo agrícola e os custos com a energia são mais baratos. A falta de jovens no setor é outro dos desafios.
Atualmente, apenas 4% dos agricultores têm menos de 40 anos. "Existe um grande défice de jovens a entrarem na atividade por uma série de fatores, desde logo a atratividade e o rendimento. Se não for uma atividade bem remunerada, é impossível captar jovens", disse Idalino Leão, sem esconder a preocupação.
"Isto é assustador. Pergunto-me quantos seremos daqui a 10 anos e como estará a nossa balança comercial se nada for feito até lá", sublinhou o responsável pela Confagri.</p>
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Encontro no Vimeiro
A Confagri promove, esta quarta e quinta-feira, o 9.º Encontro Nacional de Técnicos do setor agrícola, no Hotel Golf Mar, no Vimeiro. O novo enquadramento legal dos apoios aos agricultores para o período entre 2023 e 2027 será um dos temas em cima da mesa. O encontro contará com a presença da ministra da Agricultura e Alimentação, do secretário de Estado da Agricultura e do presidente da República.</p>
Avanço tecnológico
Segundo o presidente da Confagri, comparando com os últimos 20 anos, o setor agrícola português deu "um salto tecnológico brutal". No entanto, lamentou Idalino Leão, "há zonas do país em que estes avanços tecnológicos não são exequíveis, porque o país não tem cobertura de rede [de internet] em todo o seu território".