Casos por 100 mil habitantes passam valor crítico dos 240. Infeções estão a duplicar a cada 16 dias. Óbitos ao nível mais alto dos últimos três meses.
Inevitavelmente, o Governo viu-se obrigado a aumentar a escala da matriz de risco, apresentada em março aos portugueses como farol da situação epidemiológica do país. Ultrapassados os 240 casos a 14 dias por 100 mil habitantes, a matriz cresce agora até uma incidência de 480. Com o país a duplicar casos a cada 16 dias e a passada terça-feira a somar 3285 novas infeções e oito óbitos. Os valores mais altos, respetivamente, desde 11 de fevereiro e 7 de abril.
A ultrapassagem dos 240/100 mil habitantes aconteceu no passado sábado, como o JN noticiou, e foi na quarta-feira materializada na matriz de risco publicada pela Direção-Geral da Saúde (DGS). E sem sinais de abrandamento. De acordo com o relatório de situação, o Norte responde já por um quarto dos novos casos, estando, segundo o matemático Carlos Antunes, a duplicar casos a cada nove dias.
Pressão no Norte
É o pior registo regional, seguido de perto pelo Algarve, a duplicar a cada 13 dias. Em sentido inverso, Lisboa e Vale do Tejo, que sente ainda com maior intensidade hospitalar esta quarta vaga, duplica a cada 31 dias, revela o professor universitário.
Ainda na quarta-feira, o diretor da Unidade Autónoma de Urgência e Medicina do Hospital de São João dava conta de 80 a 100 casos suspeitos diários, com uma taxa de positividade nos 20%. Com um padrão comum: abaixo dos 30 anos e na faixa 30-50 não imunizados ou apenas com uma toma. E se as 3285 novas infeções nos fazem recuar a 11 de fevereiro, em termos de internamentos e óbitos estamos longe de uma equiparação. Naquela altura, em que a curva iniciava a sua descida, após o pico de 28 de janeiro com mais de 16 mil casos diários, contavam-se 5570 internamentos e 836 doentes em Intensivos. Hoje, a relação desce, respetivamente, para 603 e 130.
Analisando a mortalidade, compara 167 com oito óbitos. Sendo que, de acordo com o relatório da DGS, na terça-feira morreram cinco pessoas acima dos 80 anos, duas na faixa 70-79 e uma no grupo 50-55 anos.
Se a delta, dominante no país e 60% mais transmissível do que a britânica, está a alavancar a incidência, a vacinação está a travar as hospitalizações e a mortalidade. Segundo Carlos Antunes, sem a presente imunização, teríamos cerca de 1500 internamentos.
O que fazer à matriz?
Razões que levaram já o presidente da República e partidos, como o PSD, a defenderem alterações na matriz de risco tendo em conta o nível de vacinação. Um assunto que divide especialistas e uma mudança vista pelo primeiro-ministro como "inútil". Porque, como explicou António Costa, Portugal adota a matriz do Centro Europeu para o Controlo e Prevenção das Doenças.
Com a incidência a furar a escala, o JN questionou, há dois dias, o gabinete do primeiro-ministro se admitia aumentar o valor crítico dos 240/100 mil, mas até ao fecho desta edição não obteve resposta. Um aumento que teria de assumir, entende Carlos Antunes, uma maior pressão sobre o SNS, obrigando a reforçar recursos.