O órgão de tubos da igreja de Santa Catarina, em Lisboa, vai voltar a tocar ainda este ano, depois de uma complicada obra de restauro, que custou cerca de 340 mil euros, mas teve avanços e recuos, devido a dificuldades de financiamento.
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A reabilitação do órgão, que terá sido inaugurado no início do século XVIII, e viria a resistir ao grande terramoto de 1755, era uma das velhas aspirações do padre Pedro Boto. O sacerdote começou por obter apoio financeiro da Câmara de Lisboa em 2004, mas, com a crise, houve suspensão de subsídio. Não desarmou e voltaria a ter novo apoio em 2013 e em 2016, tendo este último permitido arrancar para a quarta e última fase da recuperação.
"Com a suspensão das obras, todo o material que estava desmontado no coro, ia-se danificando", sublinha o padre Pedro. Agora, os trabalhos estão na reta final e, se tudo correr como o previsto, em junho aquele instrumento de grande valor patrimonial vai voltar a ser ouvido na igreja de Santa Catarina, considerada uma das três mais bonitas de Lisboa. "Tocará na missa de domingo, em casamentos e cerimónias litúrgicas que o justifiquem", explica.
Responsável direto pela obra, Dinarte Machado, 58 anos, é um dos três únicos organeiros (responsável por construção e recuperação de órgãos), que existem em Portugal. Ao JN confirma que este é "um dos mais emblemáticos órgãos de Lisboa" e explica que, no século XIX, por força das transformações na igreja, o instrumento foi modificado, perdendo-se algumas das características originais. "A caixa está igual, só a componente fonográfica foi alterada", adianta.
Segundo o especialista, o objetivo da atual intervenção é "conservar a fundo a identidade do século XVIII e melhorar as intervenções feitas no século XIX".
Os turistas entram na igreja e ao verem o órgão ficam deslumbrados e desatam a tirar fotos
Depois de anos de abandono, o interesse pela recuperação deste tipo de instrumentos começou sensivelmente a meio do século passado. Para Dinarte Machado, dois fatores foram decisivos: "a importância da música antiga nas escolas de música e a invenção da eletricidade, que permitiu a construção de turbinas de ventilação".
Para o padre Pedro Boto, que, curiosamente, nasceu e cresceu naquela freguesia de Lisboa, este é por isso um momento de grande alegria. Não esconde o orgulho quando fala na impressão que o órgão causa aos turistas. "Entram na igreja e ao verem o órgão ficam deslumbrados e desatam a tirar fotos.", conclui.