Há dez vacinas na terceira e última fase de ensaios clínicos - os testes em humanos em larga escala - e a União Europeia prepara-se para, nos próximos dias, assinar contrato com a Pfizer-BioNTech. Esta deverá ser a primeira vacina a chegar ao mercado: em 2020 e 2021, deverão ser produzidas mais de 1,3 mil milhões de doses. Portugal está ainda a desenhar a estratégia de vacinação, que inclui saber quem terá prioridade na administração do fármaco.
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Portugal terá acesso às vacinas da mesma forma que os restantes países da União Europeia: através dos contratos que a Comissão está a negociar com vários consórcios. Assinado já está um contrato com a britânica Oxford-AstraZeneca, a norte-americana Johnson & Johnson e a franco-britânica Sanofi-GSK (esta última está na fase 2 de testes clínicos). Com estes contratos, a União Europeia vai comprar 800 milhões de doses, suficientes para inocular 400 milhões de pessoas (todas exigem duas tomas).
No futuro próximo, a Comissão Europeia prevê fechar acordo com três outros consórcios. Além da germano-americana Pfizer-BioN-Tech, que nos próximos dias se comprometerá a vender 300 milhões de doses, está previsto um acordo com a norte-americana Moderna (ambas a acabar a fase 3) e com a alemã Curevac. Deste segundo lote, só a Curevac ainda está na fase 2 dos ensaios clínicos.
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Os seis consórcios seguiram tecnologias diferentes para criar vacinas, o que dá a Henrique Veiga Fernandes razão para otimismo: "Não pusemos os ovos todos no mesmo cesto", disse o investigador da Fundação Champalimaud e vencedor do prémio deste ano para Investigação Básica, da Pfizer.
Avanços e recuos
As vacinas compradas por Bruxelas em nome dos países comunitários serão distribuídas ao mesmo tempo, na proporção da população de cada um - isto se, de facto, se comprovar que as vacinas são eficazes e seguras para os seres humanos.
A vacina da Pfizer-BioNTech é a mais avançada e os resultados preliminares da fase 3 de ensaios clínicos, divulgados esta semana, dão razão para otimismo, mas há ainda muitas perguntas sem resposta.
Logo à partida, esta terceira e última fase ainda decorre, pelo que a comunidade científica só validou os resultados das duas primeiras fases. Segundo Veiga Fernandes, estes mostraram que há "uma resposta imunitária marcada, sem suspeita de efeitos secundários preocupantes". Não se sabe, também, quanto tempo estas vacinas darão imunidade contra a covid-19.
Além disso, nada garante que todas as vacinas concluam os ensaios com sucesso. Em setembro, a Oxford-AstraZeneca suspendeu os testes provisoriamente, depois de um dos voluntários ter adoecido. Um mês depois, o mesmo sucedeu à Johnson & Johnson. Entretanto, foram retomados.
Esta semana, a chinesa Sinovac Biotech (também na fase 3) suspendeu os testes no Brasil, após a morte de um voluntário. O Instituto Butantan, o parceiro brasileiro, garantiu que a morte não está relacionada com a vacina, mas não avançou detalhes. O ensaio decorre na Indonésia e Turquia.
Reino Unido já definiu prioritários
Em dezembro, o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido começará a vacinar os idosos e trabalhadores de lares e profissionais de saúde, garante o governo de Boris Johnson. Em Espanha, um grupo de trabalho está há meses a estudar a melhor forma de fazer chegar a vacina às pessoas. Portugal ainda está a trabalhar num plano que terá de entregar à Comissão Europeia até ao final deste mês, disse na segunda-feira o primeiro-ministro, António Costa. A 15 de outubro, Bruxelas pediu aos países que preparem uma estratégia de vacinação e a logística para armazenar e distribuir as vacinas.
Micróbio inativado ou atenuado
A Oxford e AstraZeneca seguem o método mais antigo, que inativa ou atenua o vírus, para que não se reproduza, mas seja identificado e atacado pelo sistema imunitário. Aqui, é usado o vírus que causa a constipação nos chimpanzés e que não ataca o ser humano. Depois, é introduzido neste vírus material genético do SARS-CoV-2. Uma vez dentro do organismo, são as células do hospedeiro quem produz proteínas do vírus da covid-19. E é a estas células que o sistema imunitário reage. Sinovac, CanSino, Gamaleya, Janssen (Johnson & Johnson) e Sinopharm (duas vacinas) seguem método semelhante.
Usar só uma parte do material genético
A Pfizer e a Moderna seguem uma tecnologia criada para o cancro. Em vez de um vírus inativado ou atenuado, usa-se só parte do seu material genético: a proteína dos espigões que caracterizam o SARS-CoV-2. Essa proteína é depois revestida por uma "bola de sabão", composta por gorduras e que lhe permite fundir-se com as células do hospedeiro. Serão essas células quem produzirá a proteína do SARS-CoV-2, para que o sistema imunitário a identifique e ataque.
Nanopartículas para levar proteína
A Novavax dá um passo à frente: não usa a proteína do espigão, mas pedaços da proteína, e coloca-os dentro de nanopartículas. Depois, o caminho é semelhante ao da vacina da Pfizer e Moderna. É administrada pelo nariz.