Novos negócios vão da introdução de pitaias no Algarve à criação de braços robóticos.
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Há uma nova vaga na agricultura a germinar de norte a sul do país, pessoas que apostam na terra, mas não dispensam as inovações que a tecnologia oferece para aumentar a produtividade e testam novas culturas em busca de melhores negócios. Várias instituições estão a desenvolver soluções para responder aos problemas e o Governo já reservou uma fatia do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) para continuar a investir no setor.
A norte, o projeto IVDP Data+, que juntou o Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto e a NOVA IMS, aproveita os registos de dados para construir modelos que antecipem acontecimentos e tendências. Assim, os viticultores podem "tomar melhores decisões" sobre a produção e vendas, explica Gilberto Igrejas, presidente do instituto.
Na Quinta da Cholda, em Azinhaga, Golegã, o agricultor João Coimbra descobriu há anos que a tecnologia podia melhorar a produtividade. Atualmente tem desde sistemas gota a gota (permitiram reduzir para quase metade o consumo por hectare), sondas para medir a humidade do solo, estações meteorológicas, painéis solares para produzirem energia (dos maiores custos de produção) e drones que permitem avaliar a qualidade do milho. "Queremos cada gota de água a produzir o mais possível", diz Coimbra, explicando que o investimento, que tem beneficiado de alguns financiamentos públicos, o faz sentir-se mais "protegido e tranquilo".
Em vez de mão de obra
Em Torres Vedras, dos vários projetos que o Laboratório Colaborativo para a Inovação Digital na Agricultura (junta empresas, instituições de investigação e universidades), tem em mãos, conta-se o desenvolvimento de um "braço robótico para recolher diferentes hortícolas", importante numa altura em que mão de obra escasseia, conta Cátia Pinto, secretária-executiva desta entidade.
Também há quem procure novas culturas. Em Aveiro, Fábio Soares aventurou-se nas flores comestíveis. Em Tomar, Ana Pereira e o marido dedicaram-se à quinta da família quando regressaram do estrangeiro. Em tanques de água têm spirulina, cianobactérias que são consideradas um "superalimento". A novidade está a ser "bem acolhida" pelo mercado nacional, diz Ana. O casal começou o investimento por conta própria em 2018, enquanto não chegava a aprovação da candidatura ao PDR 2020, que veio a revelar-se "uma ajuda importante".
Num campo na Cacela Velha, a Universidade do Algarve está a ensaiar uma nova cultura que considera promissora para a região: a pitaia. É um fruto "muito interessante do ponto de vista dietético" que tem vindo a suscitar interesse do público, conta o professor Amílcar Duarte, explicando que "requer menos água que outras culturas" e, em casos extremos, consegue sobreviver meses sem rega. Do projeto, que conta também com a investigadora Ana Trindade, vai sair um manual para quem quiser cultivar o fruto.
Combater iliteracia digital
A introdução de novas culturas, considera Pedro Santos, da Confederação Nacional da Agricultura, pode levar a "oportunidades de negócio", mas é preciso ter em atenção "a sua sustentabilidade a médio e longo prazos", tendo em conta a sua resistência a fatores como as "alterações climáticas e falta de água".
Pedro Santos alerta, ainda, que "há uma grande iliteracia digital no nosso tecido agrícola e é precisa uma estratégia para combater este problema". Para que "não aumente ainda mais o fosso" entre a agricultura de grande dimensão e os mais pequenos de cariz familiar, pois poderá levar a abandonarem a atividade por "não conseguirem acompanhar a evolução".