
Em abril de 2010, António Costa, então presidente da Câmara de Lisboa, condecorou o cabo José Luís Gomes
Jose Carlos Pratas / Global Imagens/Arquivo
O primeiro-ministro admite, numa carta aberta dirigida a Manuel Alegre, que o choca a televisão pública transmitir touradas, mas que não lhe "ocorre proibir" essa transmissão, defendendo a liberdade de cada um. António Costa assume agora que rejeita as touradas mas, enquanto presidente da Câmara de Lisboa, atribuiu a medalha da cidade a um cabo dos Forcados Amadores de Lisboa.
O episódio no Campo Pequeno, em abril de 2010, foi fotografado e filmado. António Costa bateu palmas, distinguiu o cabo dos forcados José Luís Gomes com a medalha de mérito municipal grau ouro e abraçou-o, sempre sorridente. Ontem, a contradição do primeiro-ministro não escapou às críticas nas redes sociais.
Na carta a Manuel Alegre, divulgada ontem no jornal "Público", Costa diz-lhe que "como homem da Liberdade tem também de respeitar os cidadãos que, como eu, rejeitam a tourada como manifestação pública de uma cultura de violência ou de desfrute do sofrimento animal".
O histórico socialista Manuel Alegre escreveu, na semana passada, uma carta aberta a António Costa, publicada no mesmo diário, em defesa da tourada e da caça, pedindo-lhe que "intervenha a favor de valores essenciais do PS: o pluralismo, a tolerância, o respeito pela opinião do outro" e que interceda pela descida de 6% do IVA para todos os espetáculos sem discriminar a tauromaquia.
"Choca-me que o serviço público de televisão transmita touradas. Mas não me ocorre proibir a sua transmissão"
António Costa, Primeiro-ministro
A questão foi suscitada pela ministra da Cultura que admitiu alargar os espetáculos com redução do IVA de 13% para 6%, mas excluiu a tauromaquia por ser uma questão de civilização.
Câmaras é que decidem
Admitindo que o choca que "o serviço público de televisão transmita touradas", António Costa reclama a sua "própria liberdade" e defende a "liberdade de quem milita contra a permissão das touradas".
Pedindo a Manuel Alegre para não o recear "como "mata-toureiros", qual versão contemporânea de "mata-frades", Costa diz que prefere "conceder a cada município a liberdade de permitir ou não a realização de touradas no seu território à sua pura e simples proibição legal", considerando "extemporâneo um referendo sobre a matéria".
"É uma questão de liberdade. Liberdade para não gostar de touradas. Mas liberdade para gostar"
Manuel Alegre, Militante histórico do PS
Na sua carta, Manuel Alegre diz apoiar esta solução governativa, mas confessa que por vezes sente a sua "liberdade pessoal ameaçada". "Não por causa do que se passa no mundo. Mas porque o diabo se esconde nos detalhes. Está no fundamentalismo do politicamente correto, na tentação de interferir nos gostos e comportamentos das pessoas, no protagonismo de alguns deputados e governantes que ninguém mandatou para reordenarem ou desordenarem a nossa civilização", afirma o socialista.
