Eleitos que estão de saída do Parlamento criticam falta de comunicação com cidadãos e país real. Defendido acesso mais rápido, simples e transparente à informação através da Internet.
Corpo do artigo
Entre a renovação, a polémica exclusão de críticos e as saídas voluntárias das listas com que Rui Rio parte para as legislativas, a debandada no grupo parlamentar do PSD vai em pelo menos 59 deputados. E há mais de uma dezena em zona cinzenta. Quase todos os outros partidos têm deputados de saída, embora muito menos. Na hora da despedida, fazem-se críticas à forma como o Parlamento comunica com os cidadãos.
As contas que se fazem na bancada do PSD confirmam a permanência de pelo menos 16 de 89 deputados. Há 14 em dúvida e já 59 de saída.
No PS, uma dúzia disse adeus à Assembleia da República (AR), incluindo o líder parlamentar, Carlos César. Segue-se o CDS com cinco e, mais à Esquerda, deixam o hemiciclo três bloquistas e do PCP apenas sai Paulo Sá.
Chamados a avaliar a relação com os eleitores, sugerem alterações. Para Helena Roseta, independente que deixa a bancada do PS, a palavra de ordem é "descomplicar" o processo legislativo. "Não conseguiremos melhorar a democracia se não abrirmos o acesso à informação de forma rápida e simples", diz, numa crítica ao site da AR, onde "as pessoas desistem ao terceiro clique".
"Há uma falta de transparência, acesso e participação do cidadão", lamenta a deputada. Sugere que a página tenha um espaço individual para cada eleito colocar informação útil. E dá o exemplo do seu site, onde disponibiliza toda a legislação sobre habitação, incluindo o trabalho para a Lei de Bases, a sua bandeira na AR.
"Já dei o meu contributo", diz a arquiteta de 71 anos, que entrou com 27 e também já foi deputada do PSD.
"Grande distanciamento"
Também Álvaro Castello-Branco, do CDS, que voltou para o último mandato após nove anos fora, crê que fez os "suficientes". Diz que o trabalho de deputado "é muito exigente e também penoso" por ser do Porto, e lamenta a ideia de que "não se faz nada". Para este advogado, "o Parlamento tem uma questão importante para resolver: o grande distanciamento das populações".
"A maioria do que se faz não é do conhecimento das pessoas, ficam com a ideia errada. Há um problema de comunicação entre a AR e o país real", critica o deputado.
Para o comunista Paulo Sá, o distanciamento "não se resolve com mudanças legislativas ou no funcionamento da AR". "Depende de cada deputado", da "vontade pessoal", desde logo à segunda-feira, reservada para esse contacto. De sua parte, conta 360 visitas e reuniões no Algarve, onde vai retomar a investigação e o ensino.
Na AR, viveu duas fases. Primeiro, os cortes da troika impostos no Governo da Direita, com "medidas em avalanche". Agora, teve "a oportunidade de experimentar a nova solução governativa", com o PCP na "geringonça". E "também não foi fácil negociar com o PS", admite.
Heitor de Sousa, eleito pelo BE em 2009 e 2015 por Leiria, refere que o seu "trabalho foi sempre virado para a defesa de causas do distrito", dando o exemplo da estação de tratamento de efluentes suinícolas e da linha ferroviária do Oeste. Por isso, crê que não faltou proximidade. O economista, que sai em nome da rotatividade, diz que a nova solução, sem maioria absoluta, "tornou de novo a AR no centro da atividade e da discussão política" e isso passou para o cidadão.
Pelo PSD, o advogado Matos Correia explica que sai por incompatibilidade com a sua vida profissional e pessoal. "Mas também julgo que 20 anos é tempo mais do que suficiente", disse ao JN. A seu ver, ainda há "muita coisa a melhorar" na AR porque, "muitas vezes, o plenário perde-se a discutir projetos de resolução e deliberação sem importância". Por isso, defende uma "reforma adicional" para centrar o plenário "nos grandes debates legislativos e políticos".