
Hospital de Chaves (Rui Manuel Ferreira / Global Imagens)
Rui Manuel Ferreira / Global Imagens
Falta de médicos na Urgência de Chaves levou enfermeiro a queixar-se às chefias internas e à Ordem dos Enfermeiros.
Um enfermeiro do Hospital de Chaves está a ser alvo de um processo disciplinar depois de apresentar uma denúncia relativa à falta de médicos de clínica geral no Serviço de Urgência daquela unidade, durante o período noturno. O Centro Hospitalar de Trás-os-Montes e Alto Douro (CHTMAD) abriu um inquérito no seguimento da denúncia, mas também instaurou um processo disciplinar ao profissional de saúde por este ter quebrado o sigilo ao revelar os dados pessoais e clínicos dos utentes à Ordem dos Enfermeiros, entidade externa ao hospital.
"Fui acusado de quebrar o anonimato dos utentes ao dar conhecimento da denúncia à Ordem dos Enfermeiros. Quando fiz a queixa, apresentei uma imagem da página do sistema de apoio à triagem com os doentes que estiveram horas à espera para ser atendidos, porque considerei que poderiam querer questioná-los sobre o que se passou naquela noite", explicou Rui Carvalho, enfermeiro com 22 anos de serviço, 17 dos quais no Serviço de Urgência de Chaves.
Além da abertura do processo disciplinar, o CHTMAD confirmou que efetuou uma "denúncia no Ministério Público por violação de segredo por funcionário". No entanto, a Administração do Centro Hospitalar realçou que "a instauração do processo disciplinar não está relacionada com a denúncia, mas apenas com a divulgação de dados sensíveis dos utentes".
Para a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, este caso é "algo inimaginável". "O enfermeiro estaria a cometer uma infração se divulgasse o nome dos utentes para o exterior. Isso não se aplica à Ordem dos Enfermeiros, que também está obrigada ao dever do sigilo. Sempre trocamos informação com várias entidades do Estado. É uma situação que nunca pensei assistir e que representa uma repressão nunca antes vista", sublinhou.
Bastonário e o médico
Rui Carvalho lembra que tem "o dever profissional de denunciar situações que possam pôr em risco o bem-estar dos nossos doentes". O enfermeiro de 45 anos revelou que, durante o turno que deu origem à queixa, "havia cerca de 10 doentes à espera de serem atendidos, alguns deles há mais de cinco horas". "É recorrente e incompreensível haver pessoas à espera e o médico desaparecer do serviço", lamenta.
Ana Rita Cavaco defende que o CHTMAD "deveria verificar porque é que não havia médico na Urgência em vez de perseguir o enfermeiro que denunciou, e bem, a situação".
