
Pedro Correia / Global Imagens
A "greve cirúrgica" dos enfermeiros, que decorre há quase três semanas em cinco grandes hospitais do país, está a adiar a maioria das operações pediátricas, uma vez que só as situações graves e prioritárias integram os serviços mínimos.
A Ordem dos Médicos defende uma situação de "exceção" para a cirurgia pediátrica, de forma a não prejudicar o ano escolar daqueles doentes.
No final de uma reunião com os diretores clínicos dos cinco hospitais, o bastonário da Ordem dos Médicos salientou que "parte significativa das crianças está a ser afetada" pela greve porque não são casos graves e não integram os serviços mínimos. Miguel Guimarães explicou que "muitas destas cirurgias são agendadas para momentos oportunos do calendário escolar" e, perdendo-se essa oportunidade, haverá impacto negativo no ano escolar. Na semana passada, o presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte alertou para que, desde o início da greve, não foi operada uma única criança. Para Miguel Guimarães, os serviços mínimos, negociados entre sindicatos e hospitais, deveriam ser alargados para acolher estes casos.
Afeta todo o SNS
Desde o início da greve, já foram adiadas entre quatro a cinco mil cirurgias, consoante as contas do Ministério da Saúde ou dos sindicatos que convocaram o protesto. Os números concretos vão começar a ser divulgados de dois em dois dias, anunciou a OM.
A situação é "grave e inédita" e afeta não só cinco hospitais, mas a resposta de todo o SNS, afirmou o bastonário, explicando que algumas unidades já começaram a pedir auxílio aos vizinhos.
Em Lisboa, o Hospital de Santa Maria transferiu doentes graves que não conseguiu operar para o Hospital de S. José, Lisboa Ocidental e Beatriz Ângelo. No Porto, ainda não terá havido transferências, mas o Hospital de Gaia poderá ser chamado a dar apoio. O Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra é o mais desprotegido, pela sua dimensão e porque os hospitais mais próximos não têm capacidade de resposta, disse Miguel Guimarães. "A informação que tenho é que os doentes mais graves ou já foram tratados ou estão a ser tratados", assegurou.
A greve dos enfermeiros às cirurgias programadas começou a 22 de novembro nos centros hospitalares de S. João, do Porto, Coimbra, Lisboa Norte e Setúbal e pode durar até ao final do ano se Governo e sindicatos não se entenderem.
Bastonária admite aumento de mortes evitáveis
A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, admite que as mortes evitáveis possam aumentar por causa da greve cirúrgica, mas sublinha que acontecem há muito em Portugal "por incumprimento do número mínimo de enfermeiros". "Ora se a Ordem tem denunciado ao longo destes três anos situações em que está um enfermeiro para 40 doentes, é evidente que já morreu muita gente cujas mortes podiam ter sido evitadas", disse ao DN. Hoje, a bastonária reúne com sindicatos e enfermeiros diretores para avaliar a greve.
