Empresas queixam-se de falta de mão de obra e dizem que é difícil encontrar quem queira realizar tarefas duras.
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A falta de mão de obra no setor florestal está a dificultar a limpeza de terrenos e faixas de gestão de combustível, tarefa que deve ficar concluída até à próxima sexta-feira, dia 15.
Fernando Cruz, da Madeicampo, em Valongo, precisa contratar "10 pessoas" para trabalharem "a tempo inteiro". Mas não encontra quem queira, apesar de os salários no setor "rondarem geralmente os 1000 euros" e poderem, em alguns casos, "chegar aos 1500 euros". No ano passado e novamente este ano, recorreu ao instituto de emprego. Mas "aparecem poucos, dizem que não têm experiência e queixam-se que é duro. Não fica ninguém", conta. Os trabalhadores que existem acabam a fazer horas extra, a empresa tenta subcontratar outras e, mesmo assim, não consegue responder a todos em tempo útil.
Marco Duarte, da Maialenhas, frisa que "não se formam pessoas de um dia para o outro para saberem trabalhar com motosserras e equipamentos mais pesados" e não é fácil fixar mão de obra. "Podemos conseguir meter um ou dois, mas trabalham uns tempos, dizem que é duro e quando encontram outro emprego vão embora", explica. "O salário base de um motosserrista ronda os mil euros. Os ajudantes recebem entre 650 e 750 euros", conta
A Associação de Produtores Florestais dos concelhos de Alcobaça e Nazaré, explica, pela voz de Marco Martins, que este ano contrataram mais uma equipa de sapadores, constituída por cinco pessoas, "que já estava pensada e era necessária". "Não é fácil arranjar mão de obra qualificada" ou quem queira desempenhar aquelas tarefas "pesadas", corrobora, opinião confirmada por vários autarcas.
Em muitas situações, o trabalho é sazonal, seja para realizar estas tarefas de limpeza ou outras atividades pontuais.
Pedro Serra Ramos, presidente da Associação Nacional de Empresas Florestais, Agrícolas e do Ambiente, refere que o problema da falta de mão de obra está "associado à sazonalidade dos trabalhos e a garantia de trabalho". "O setor não pode sobreviver com picos de trabalho, a que se seguem alturas sem nada para fazer. Esta situação não impede apenas o aparecimento de uma estrutura de mão de obra estável e qualificada, como impede as empresas de realizarem investimento em mecanização".
Todos os contactados dizem que será difícil limpar tudo até dia 15. E Pedro Serra Ramos acredita que "muito do que falta fazer não se resolve alargando o prazo". As questões de fundo "têm a ver com a economia associada à exploração florestal e à capacidade de investimento dos produtores", que em muitos casos é diminuta. "Não há meios para este esforço todos os anos, não só recursos humanos como financeiros", reforça Luís Sarabando, da Associação Florestal do Baixo Vouga.
Detalhes
Prazos
A limpeza e a gestão de faixas de combustível devem estar concluídas até 15 de março. A fiscalização da GNR inicia-se a 1 de abril. As autarquias têm depois de se substituir aos incumpridores e assegurar a limpeza, imputando os custos aos proprietários.
Coimas
Oscilam entre 280 euros e 120 mil euros, consoante sejam pessoas particulares ou coletivas. Em 2018, a fiscalização GNR levantou 8425 contraordenações. Como o prazo foi dilatado até 31 de maio, alguns autos foram anulados.
Números
O custo da limpeza por hectare oscila entre 250 e 1000 euros, estima a plataforma de serviços Fixando, que tem 300 profissionais inscritos.
8425 contraordenações foram levantadas pela GNR em 2018, referentes a falta de limpeza e gestão de faixas de combustível.