A Proteção Civil mobilizou, na quarta-feira, um forte contingente de meios de combate a incêndios e de emergência para participar nas filmagens de uma novela para a SIC.
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O objetivo foi recriar os trágicos incêndios de outubro de 2017, em que morreram 49 pessoas e que provocaram a destruição quase total do secular Pinhal de Leiria.
Aliás, estes mesmos fogos, perante a chuva de críticas à atuação descoordenada da Proteção Civil e à falta de meios aéreos - que os relatórios das comissões técnicas independentes confirmaram - acabaram também por levar à saída do Governo da ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, e do seu secretário de Estado, Jorge Gomes.
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A representação de tantos elementos ligados à Proteção Civil incluiu não só os cenários da fuga em pânico dos milhares de banhistas das praias da região, que ocorreu perante a coluna de fumo da altura, como também a instalação de uma cópia de um posto de comando exatamente onde esteve o verdadeiro há dois anos.
Todas as corporações de bombeiros de Leiria, o INEM, os militares do Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS), os "canarinhos" da Força Especial de Bombeiros (FEB) e até o SIRESP receberam ordens para rumarem às filmagens da SP Televisão, que há cerca de um mês desafiou a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) a participar nas filmagens de "Flor de sal".
No caso do SIRESP, a rede de comunicações de emergência que tão mal funcionou nesses incêndios, houve a intenção de recriar ao pormenor o posto de comando no teatro de operações.
Confrontando pelo JN com tal mobilização e com a memória tão fresca dos acontecimentos trágicos, o responsável pelo Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Leiria, Carlos Guerra, descartou qualquer responsabilidade direta e garantiu que as suas ordens surgiram na sequência "das autorizações e das respetivas orientações que vieram do comando nacional".
Luís Ferreira, comandante dos Bombeiros de Maceira, uma das várias corporações figurantes, confirmou que a ordem dada veio do CDOS de Leiria e foi deixado claro por essa estrutura que "tudo foi feito por indicação do comando nacional". O JN tentou obter da ANEPC esclarecimentos sobre a situação, o que não foi possível até ao fecho desta edição.