A mulher de Adriano Maranhão, o português contagiado com Covid-19, desespera ao ver o marido a ficar mais doente e com as informações contraditórias que vai recebendo. Dizem-lhe que não há vagas nos hospitais japoneses, mas um médico que subiu a bordo do navio onde se encontra garante que será internado terça-feira à tarde.
Corpo do artigo
"Ele já não sabe mais o que fazer. Quando falei com ele já o senti a desistir", disse Emmanuelle Maranhão, em declarações aos jornalistas, esta segunda-feira de manhã, na Nazaré, onde o casal reside. "O meu desespero é não conseguir ajudá-lo", acrescentou, voz embargada e lágrimas nos olhos.
11855028
"Era evidente que quanto mais tempo ele passasse lá sozinho iria piorar. Qual é a parte que as pessoas ainda não perceberam que isto não é uma gripe? Estão a dar-lhe paracetamol. Se isto não fosse grave, ele não estava em isolamento, estava cá e eu dava-lhe paracetamol cá, que também tenho Ben u Ron", desabafou Emmanuelle.
Pouco depois de revelar que o estado de saúde do marido piorou, Emmanuelle Maranhão apelou ao presidente da República e pediu a Marcelo Rebelo de Sousa para que "envie uma carta ou faça um telefonema" para a empresa proprietária do navio Diamond Princess "que está a deixar morrer um tripulante, que cumpriu com o seu dever".
A mulher de Adriano Maranhão acusa a empresa, a Princess Cruise, de "ter uma atitude diferente para passageiros e tripulantes" do navio. "No início, nem máscara ou outras proteções lhe deram. Até ao terceiro dia, continuou a trabalhar, a entrar nas cabines, e nem lhe disseram que estava numa zona com doentes de quarentena, com infetados", acrescentou.
"Sou a primeira a falar de um tripulante que não está a ser tratado. Outros foram para casa, ninguém lhes disse nada, ninguém fez nada", lamentou Emmanuelle Maranhão, que se queixa de dificuldades em falar com a empresa responsável pelo trabalho de Adriano e fala em contradições.
Adriano foi visto por um médico e vai ser internado amanhã
"O Adriano está a ser visto por um médico, que subiu a bordo hoje. Disseram-lhe que o vão tirar de lá e que vai ser internado, no máximo amanhã à tarde", disse Emmanuelle Maranhão. "Mas isto são informações muito contraditórias. Acabei de saber agora pelo telefone, da agência de recrutamento, que não têm lugar no Japão para o colocar, não há nenhum hospital lá que possa recebê-lo. O que o médico diz não está de acordo com a agência", acrescentou.
Entretanto, Emmanuelle confirmou ao JN ter recebido informações de que Adriano será internado, amanhã à tarde, num hospital de referência no Japão.
"A embaixada também continua a dizer a mesma coisa, que está a tratar, que está a tratar, mas a verdade é que se eles não têm espaço, não podem fazer nada e eu estou aqui a ser enrolada", lamentou Elisabete Maranhão. "Ele fica cada vez mais doente, vai para o terceiro dia naquela cabine e ninguém faz nada", acrescentou em declarações aos jornalistas.
"Se o Japão está a deixar claro que não tem meios para tratar as pessoas, estão a dizer-me que o vão levar para um hospital japonês", argumentou, desesperada, também, pela falta de informação da empresa que emprega o marido. "O trabalho já não importa. Ele não pode é morrer", disse Emmanuelle Maranhão.
11854150
Em Portugal, a 13.ª suspeita deu também negativo a Covid-19
No domingo, as autoridades japonesas confirmaram que o português Adriano Maranhão, canalizador no navio Diamond Princess, atracado no porto de Yokohama, deu teste positivo ao coronavírus Covid-19.
De acordo com fonte oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal está a "insistir junto das autoridades locais para que se proceda à sua transferência para o hospital de referência", no Japão.
Já em Portugal, deu negativo o resultado da análise ao cidadão português que está internado no Hospital de São João, no Porto, por suspeitas de infeção por novo Coronavírus (COVID-19), segundo uma nota da Direção-Geral da Saúde (DGS).
O coronavírus Covid-19 surgiu em dezembro em Hubei, no centro da China, país onde estão registados, a nível continental, 76936 casos, 2592 dos quais mortais.
O segundo país mais afetado é o Japão, com 769 casos (três dos quais mortais), incluindo pelo menos 364 no cruzeiro Diamond Princess. Segue-se a Coreia do Sul, com 556 casos, cinco dos quais mortais.