Maioria dos casos são resolvidos pela GNR e PSP, mas há mais de 100 ocorrências por solucionar. Prevenção pode ser decisiva.
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Entre 2017 e 2021, desapareceram 1555 pessoas com idade igual ou superior a 65 anos em Portugal. Os dados divulgados ao JN pela PSP e GNR mostram que a maioria dos idosos desaparecidos são localizados, mas ainda há 102 casos por resolver.
A PSP é a força de segurança que mais ocorrências de idosos desaparecidos regista por ano. Desde 2017 foram 999, das quais 963 foram concluídas com a localização da pessoa. Já a GNR contabilizou 556 desaparecimentos no mesmo período temporal, dos quais 490 terminaram com a pessoa idosa encontrada.
No total, foram encontrados 1453 idosos dos 1555 que desapareceram. As forças de segurança não especificam quantos destes idosos foram encontrados com vida. No que toca aos anos, o de 2019 foi o que mais ocorrências de desaparecimentos registou em ambas as forças de segurança. Na PSP foram 261 e na GNR 124. Aquele também foi o ano com mais idosos encontrados, concretamente 260 pela PSP e 110 pela GNR.
A maioria dos desaparecimentos estão relacionados com desorientações momentâneas ou acidentes em locais onde não há gente por perto. Nesse sentido, a GNR aconselha os familiares "a estarem cientes das capacidades físicas e psíquicas dos idosos para poderem sair sem correrem o risco de se perderem". Sempre que possível, acrescenta a Guarda, os idosos "devem fazer-se acompanhar de um telemóvel ligado" e "devem ter sempre na sua posse os contactos dos seus familiares", sugere ainda a GNR.
Já a PSP aconselha a adesão ao programa "Estou Aqui Adultos", que consiste na entrega de uma pulseira. Ainda que não tenha localização GPS, a pulseira ajuda a promover o reencontro célere entre o desaparecido e a família ou instituição de apoio. "Qualquer pessoa que encontre o portador da pulseira só terá de contactar a PSP, através do 112, indicar onde se encontra e o código da pulseira", explica a Polícia.
Dica de um pastor salvou António Preto
António Preto mal se lembra que esteve desaparecido. Os 83 anos não perdoam e a memória já não é ágil, mas o ex-emigrante reteve que esteve "muito tempo fora de casa, lá em cima à espera", conta. "Lá em cima" é mais concretamente um monte entre Carçãozinho, aldeia da freguesia de Serapicos, onde vive, e a de Pinela, no concelho de Bragança. Esteve desaparecido entre 16 e 17 de abril do ano passado.
"Não me lembro de nada. Só que estive à espera", explica o idoso, que tem dificuldades de locomoção e usa uma bengala, mas percorreu vários quilómetros desde casa, no centro da aldeia, até ao local onde foi encontrado por um bombeiro de Izeda, depois de as buscas terem sido direcionadas para o local por causa da dica dada por um pastor.
O genro, António Pires, é que não esquece as aflições e as mais de 24 horas em que chegaram a temer o pior. "Ele tinha saído de casa, entre as 16 e as 17 horas, a 16 de abril. O tempo estava instável, com trovoada, mas ele gostava de ir para o campo e foi dar uma volta. Não regressou e a minha sogra ligou-nos. Nós vivemos em Macedo de Cavaleiros e viemos logo. Como à noite ainda não tinha regressado, informámos a GNR. Vieram militares com cães e as buscas foram iniciadas", recorda António Pires. A noite estava chuvosa e fria. As buscas incidiram em vários locais da zona. Sem sucesso. A família temeu o pior. Na manhã seguinte, retomaram a procura: bombeiros de Izeda, uma equipa cinotécnica de Lisboa, os GIPS, populares e a família. Apesar dos esforços, procuravam uma agulha no palheiro. Tudo indicava uma história com desfecho trágico. Não foi. "Por sorte", admite António Pires.
"Ao fim da tarde, desloquei-me a uma propriedade para fazer uma última tentativa, antes das buscas encerrarem. No caminho encontrei um pastor e comentei que o meu sogro estava desaparecido. Coincidência, lembrou-se que no dia anterior tinha avistado uma pessoa num monte, do outro lado da ribeira, a descer a encosta muito devagar. António foi encontrado prostrado no monte, só com um sapato. "Estava encharcado, com hipotermia, muito debilitado, mas consciente", acrescenta o genro.