Manuel João Cruz: "O populismo contamina discurso" e há o risco que outros partidos o adotem

Manuel João Cruz alerta que o "Chega afigura-se como um dos maiores desafios na democracia liberal"
Leonardo Negrão / Global Imagens
O investigador do Centro de Estudos Social (CES) Manuel João Cruz, que se dedica ao estudo do populismo, considera que este fenómeno contamina os discursos e que há o risco que outros partidos sigam o exemplo do Chega e adotem-no. "O Chega afigura-se como um dos maiores desafios na democracia liberal", alerta.
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Depois de ter dado um workshop sobre o populismo na manhã deste sábado, em Coimbra, durante o Encontro Nacional de Estudantes de Letras, o investigador entende que há um interesse dos estudantes nesta matéria. "A maior parte deles está muito interessada. Foram interventivos ao longo do workshop. Penso que foi bem sucedido e pareceu-me um público bem formado e bem consciente da realidade política que estamos a presenciar", aponta Manuel João Cruz. No workshop, estiveram cerca de 20 inscritos.
Manuel João Cruz começou a estudar o discurso populista quando entrou no Doutoramento, em 2019, altura que coincidiu com a ascensão do Chega. "Como defensor da democracia liberal, liberdade de expressão e direitos humanos, foi um passo natural na minha investigação. O Chega afigura-se como um dos maiores desafios na democracia liberal", adverte.
Para o investigador, um dos riscos do discurso populista é poder levar a que outros partidos o adotem. "O populismo contamina os outros discursos. Acredito que algumas coisas sejam já recuperadas por outros partidos, mas é difícil quantificar. Há uma influência, é certo. Os partidos ao centro ainda estão muito dentro dos seus discursos normais e formais", descreve. No entanto, Manuel João Cruz avalia, com cautela, a demarcação recente de Luís Montenegro, presidente do PSD, do Chega.
"Não sei se o PSD vai ter Governo sem o Chega. Essa demarcação é um posicionamento para se moderarem, mas não sei se vão manter. Poderão adotar o discurso ou reivindicações do Chega", avalia o investigador
Necessidade de dar ferramentas
Madalena Santos, da organização do Encontro Nacional de Estudantes de Letras, considera que o discurso populista é um tema que deve estar na ordem do dia. "É um tema muito importante nos dias que correm. Foi um dos workshops que demonstrou mais interesse pelos participantes. Hoje em dia, vivemos num mundo muito coberto pelo discurso populista e é importante dotar os estudantes de ferramentas para identificá-lo", aponta Madalena Santos.
O Encontro Nacional de Estudantes de Letras decorre até domingo em Coimbra, com 130 estudantes inscritos. "Temos pessoas de Évora, de Leiria e de Lisboa e, claro, muita gente de Coimbra. E estão duas pessoas de França, que passaram por Coimbra e gostaram do programa do encontro", salienta a estudante de Estudos Europeus, membro da organização.
O deputado do Livre, Rui Tavares, marca presença no último dia do encontro, sendo um dos oradores do painel ""O futuro das letras no enquadramento social e tecnológico atuais".
"Nos workshops, procurámos corresponder às 13 licenciaturas da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Procurámos diversificar e tivemos, também, um de gestão de negócios, porque uma faculdade que participa no encontro tem um curso ligado à gestão", explica, ainda, Madalena Santos.
