<p>O último líder do Estado Novo, Marcelo Caetano, morreu há 30 anos de ataque cardíaco, no Brasil, sem nunca ter manifestado vontade de regressar a Portugal, de onde se exilara após a revolução de 1974.</p>
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A notícia da sua morte, a 26 de Outubro de 1980, aos 74 anos, foi divulgada no Telejornal da RTP, tendo depois familiares de Marcelo Caetano confirmado a informação aos órgãos de comunicação social.
Marcelo Caetano, destituído de todos os seus cargos após a revolução de 25 de Abril de 1974, chegou no mês seguinte ao Brasil "como imigrante e não como exilado político", segundo imprensa da época, e nunca mais quis regressar a Portugal, manifestando a vontade de ser enterrado naquele país -- como viria a acontecer.
No Brasil, dirigiu o Instituto de Direito Comparado, na Universidade Gama Filho, e, durante os mais de seis anos que esteve no exílio, viveu "em permanente depressão, revoltado contra o mundo e transpirando azedume por todos os poros" (segundo uma reportagem da revista Visão de 1994).
O funeral do antigo presidente do Conselho, no Rio de Janeiro, foi acompanhado por cerca de 500 pessoas, incluindo vários ministros e secretários de Estado do antigo regime, e ouviram-se na ocasião os hinos português e brasileiro.
Marcelo Caetano nasceu em Lisboa a 17 de Agosto de 1906 e doutorou-se na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 1931, dois anos depois de ter conhecido António de Oliveira Salazar.
Nos anos 30 ingressou na vida política, apoiando o regime de Salazar, e, na década seguinte, ocuparia lugares destacados do Estado Novo -- foi ministro das Colónias (1944-1947) e ministro da Presidência do Conselho (1955-1958), sendo afastado depois da substituição de Craveiro Lopes por Américo Tomás em Belém.
Regressou à vida académica, desempenhando a função de reitor da Universidade de Lisboa entre 1959 e 1962, demitindo-se no seguimento da crise académica daquele ano, por discordar da violência da intervenção da polícia contra os estudantes.
Em 1968, depois de Salazar ter sofrido uma lesão cerebral, o então Presidente da República, Américo Tomás, indicou Marcelo Caetano para a presidência do Conselho, numa substituição que foi vista, à altura, com alguma esperança de abertura política do Estado Novo.
O período que ficou conhecido como a "primavera marcelista" conheceu mudanças, como a suavização da censura, a atribuição de novos nomes à União Nacional e à Pide, a admissão de uma ala liberal no Parlamento.
Marcelo Caetano aparece semanalmente na televisão, nas "Conversas em Família", para explicar as suas ideias, autoriza o regresso de alguns exilados políticos, trava os monopólios, cria pólos de desenvolvimento industrial e lança várias obras, como autoestradas e bairros sociais, numa política a que chamou "evolução na continuidade".
Recentemente, o antigo presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa -- seu afilhado -, considerou que Marcelo Caetano "chegou tarde demais ao lugar", defendendo que a altura ideal para suceder a Salazar deveria ter sido o início ou o meio da década de 1950, de forma a aplicar o seu programa político, pensado para um período de 10 a 15 anos.