
Massificação dos testes divide políticos e comunidade científica
Pedro Correia/Global Imagens
Dirigentes clínicos denunciam dificuldades para conseguir fazer despistagem do coronavírus nos laboratórios do SNS.
Corpo do artigo
Há médicos do Serviço Nacional de Saúde (SNS) que se têm sentido obrigados a recorrer a laboratórios privados para se submeterem a testes, pagos do seu bolso, de despistagem do coronavírus. E, em alguns desses casos, os testes deram resultado positivo, confirmam o secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), Jorge Roque da Cunha, e o presidente da Secção do Centro da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes.
11981111
Roque da Cunha declara, ao JN, que "são imensos os médicos que fizeram várias tentativas [no âmbito do SNS] e que, no final do dia, decidiram ir para o privado". "Há situações nas regiões de Fátima e de Oeiras, na Região do Alentejo, em Resende", enumera o dirigente do SIM, garantindo que, "infelizmente, não é uma situação pontual, mas muitíssimo frequente". Dos casos que chegaram ao seu conhecimento, contabiliza dois testes positivos para Covid-19.
O presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos também está a par da situação. "Tenho colegas em casa, em isolamento, que sabem que são positivos porque foram ao privado", conta, observando que "pagaram o teste do seu bolso". Os laboratórios privados têm cobrado entre 100 e 150 euros pelos testes.
Até agora, os médicos do SNS que receiem estar infetados e queiram ser testados devem ligar para a linha SNS 24 ou apresentar o seu caso a um superior hierárquico. Mas Carlos Cortes garante que tem recebido queixas de médicos que tiveram contacto de risco e não estão a ser testados. Falam com as respetivas hierarquias e estas dizem-lhes que serão chamados para fazer a colheita, mas isso chega a demorar vários dias, explica. Nessa espera, uns ficam em isolamento, mas outros mantêm-se ao serviço, podendo pôr profissionais e os doentes em risco.
Assintomáticos que infetam
"Infelizmente, o Estado não protege os seus profissionais. Porque a norma disto é: só faz teste quem tem sintomas. Só que, às vezes, as pessoas [infetadas] são assintomáticas", lembra Roque da Cunha. Comenta que "o argumento para não fazer testes a toda a gente é que há muitos falsos negativos", mas defende que, "em dez médicos, ou dez enfermeiros, basta haver um positivo para já ter valido a pena". O dirigente sindical manifesta, ainda assim, a expectativa de melhoras, "com os 240 mil kits de testes que aí vêm".
Questionado pelo JN sobre o recurso dos médicos do SNS aos laboratórios privados, o presidente da Federação Nacional dos Médicos, Noel Carrilho, diz ter um "conhecimento vago" da situação. "Mas não é nada que me surpreenda", acrescenta. Já a bastonária dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, não conhece enfermeiros do SNS a fazer testes no setor privado.
Centros de saúde atendem casos a partir de quinta-feira
Todos os agrupamentos de centros de saúde devem dispor, a partir de amanhã, de uma área dedicada à Covid-19 (ADC). A medida coincide com a extinção da Linha de Apoio ao Médico e a entrada do país em "fase de mitigação" da pandemia. Face à incapacidade de conter o aumento de infeções, a assistência deixa de estar concentrada nos hospitais e alarga-se aos cuidados de saúde primários. Mas as autoridades pedem à população que contacte a linha SNS 24 antes de recorrer às ADC. A bastonária Ana Rita Cavaco diz que aquela linha está melhor, desde que foi reforçada com enfermeiros.
