Segundo dia de greve de professores "em crescendo", calcula S.T.O.P. Marcelo entende que docentes têm, muitas vezes, razões de queixa
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O ministro da Educação foi surpreendido, esta segunda-feira, por dezenas de professores em greve que o esperavam em Alcochete. João Costa acusou os sindicatos de mentirem sobre a alteração à contratação de docentes. O Sindicato de Todos os Professores (S.TO.P) apontou para um segundo dia de greve por tempo indeterminado (iniciado na sexta-feira) marcado por um "inevitável crescimento" da adesão de norte a sul do país. Já o presidente da República, recebido por dezenas de professores na Escola Básica e Secundária de Ourém, afirmou que os docentes se queixam "muitas vezes com razão das suas condições" de trabalho.
"A greve está em crescendo, mais escolas estão a aderir e, dos vários agrupamentos, praticamente todos têm escolas com professores em greve, independentemente de serem ou não sindicalizados", avançou André Pestana, dirigente do S.TO.P.. É um sinal de que "as pessoas estão a despertar de um sono profundo" face à desvalorização da profissão e que é "notório o descontentamento dos professores". Exigem um aumento salarial, a recuperação de todo o tempo de serviço que esteve congelado e o fim das quotas na avaliação e no acesso ao 5.º e 7.º escalões da carreira.
Tenta acalmar situação
Recebido ruidosamente à entrada do Fórum Cultural de Alcochete, o ministro da Educação disse, em declarações à SIC, que "há uma afirmação clara por parte do Governo de que o recrutamento dos professores nunca será municipalizado. E há uma afirmação consciente de mentira por parte dos sindicatos de que é esse o caminho". Para João Costa, o que se pretende é "apenas criar ruído, agitação e medo entre os professores", defendeu. Ao JN, André Pestana sublinhou ser "factual" que, na proposta do Governo, "a gestão e recrutamento de professores, tanto efetivos como contratados, seguiam para os diretores, com ou sem conselho de diretores intermunicipal". Retificando: "Nós sempre dissemos que a proposta poderia ser um primeiro passo no sentido de um injusto processo, mas nunca dissemos que era já uma municipalização". O dirigente sindical explica que "o ministro, depois de ver esta grande mobilização, estava a tentar acalmar a situação".
Em Ourém, Marcelo Rebelo de Sousa declarou que os docentes "estão a pensar sobretudo nos professores do Básico e do Secundário", mas o problema é geral "a todos os graus de ensino". O presidente mostrou-se solidário com a "muito justa" preocupação dos docentes, considerando-os "do mais importante" que o país tem.
Em defesa da escola pública, docentes, pais e alunos concentraram ainda, pelas 18 horas, em frente às câmaras.
Em greve "até que alguém nos oiça"
Em Matosinhos, oito docentes da Escola Básica do 1.º Ciclo Florbela Espanca não deram esta segunda-feira aulas - segundo dia de greve - conta, ao JN, a professora do agrupamento Sónia Rodrigues, que deu início à paralisação na passada sexta-feira. O protesto começou às 8 horas, junto ao portão da Escola EB1 do Godinho, e manteve-se até ao início da tarde, no interior do estabelecimento de ensino. Sónia Rodrigues diz que está em luta "pelo futuro das crianças e dos professores". "Ao contrário do que as pessoas possam pensar não fomos de fim de semana prolongado", adverte. Os docentes vão continuar em greve o resto da semana. "Até que alguém nos oiça", afirma.
Os pais têm apoiado a paralisação. É o caso de Célia Cardoso que, acompanhada pelos dois filhos, se juntou esta segunda-feira à concentração em frente à Câmara Municipal de Matosinhos. "A Escola do Godinho está há oito anos à espera de obras, uma promessa que a autarquia não concretiza. Se não conseguem cumprir isso, também não têm capacidade para contratar professores", defende.