Falta acordo para unidades de rastreio voltarem a funcionar. Estão por fazer milhares de exames essenciais para detetar doença.
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As unidades de rastreio do cancro da mama do Norte estão fechadas porque falta renovar o acordo entre a Liga Portuguesa Contra o Cancro - Núcleo do Norte e a Administração Regional de Saúde (ARS). Ficam por fazer milhares de exames vitais para deteção precoce da doença.
As 19 unidades (15 móveis e quatro fixas) que a Liga tem na região, no âmbito do Programa de Rastreio do Cancro da Mama, estão prontas a trabalhar, mas a questão administrativa mantém as portas encerradas. Desde que fecharam em março, devido à pandemia de covid-19, nunca mais reabriram.
A questão burocrática apenas se verifica nesta região, uma vez que "as ARS do Centro, Lisboa e Vale do Tejo e a do Alentejo não estavam dependentes de processos de renovação de contratos", diz Vítor Veloso, presidente do Núcleo do Norte da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC). Nestas zonas, os rastreios foram retomados na segunda quinzena de junho, tal como no Algarve, cuja execução não tem participação da Liga.
Segundo acrescentou Vítor Veloso, "o público alvo do programa de rastreio no Norte é de aproximadamente 630 mil mulheres".
Aos 64 anos, Manuela Sousa, de Ermesinde, Valongo, é uma dos milhares de utentes que, desde março, aguardam nova data para um exame na unidade móvel de rastreio, colocada próximo da Junta de Freguesia. A "mamografia estava marcada para 18 de março", mas foi desmarcada por causa da pandemia. Mais de três meses depois, é com "revolta" que Manuela fala sobre este atraso, que está longe de ser caso único. Segundo o Núcleo do Norte da LPCC, foram adiados "cerca de 75 mil exames de rastreio e ainda se encontram suspensas as marcações".
"Não dá para perceber"
"Tinha a mamografia marcada por causa da idade e porque tenho alguns antecedentes. Não dá para perceber este atraso", diz Manuela. "Os médicos estão sempre a alertar que é muito importante fazer rastreios porque se houver algum problema um diagnóstico precoce pode fazer toda a diferença. Sinto-me revoltada e não estou a pensar só em mim. Há muita gente sem hipótese de fazer exames no privado", afirma. Para Manuela, a alternativa foi obter um P1 e marcar o exame no privado.
Tal como a unidade de Ermesinde, que fazia cerca de mil exames por mês, as restantes 18 do Norte "mantêm-se estacionadas nos locais e prontas a funcionar", diz a Liga. Mas "aguardam indicações", uma vez que "ainda não foi possível renovar o acordo existente com a ARS". Também as equipas - 80 médicos, técnicos de radiologia e administrativos - "mantêm-se em funções, a aguardar".
Contactada pelo JN, a ARS disse que "à semelhança de outros rastreios de base populacional", o rastreio do cancro da mama "só retomará previsivelmente durante o segundo semestre de 2020, em data a anunciar e logo que se reúnam todas as condições". Até lá, sempre que haja "uma situação passível de necessidade de avaliação clínica", como "queixas sintomáticas da mulher ou antecedentes que obriguem a uma vigilância mais apertada, o médico de família providenciará um exame numa entidade convencionada para o devido esclarecimento, como já fazia até aqui", referiu.
Segundo o Núcleo do Norte da LPCC, as partes envolvidas, juntamente com o Ministério da Saúde, têm feito "todos os esforços para que esta situação seja resolvida no mais curto espaço de tempo".
Concelhos
Na altura da suspensão do rastreio, encontravam-se a rastrear, na Zona Norte, os seguintes concelhos: Peso da Régua, Santa Maria da Feira, Vinhais, Valença, São João da Madeira, Vila Real, Guimarães, Marco de Canaveses, Valongo, Matosinhos, Braga, Vila Nova de Gaia, Viana do Castelo, Vila Nova de Famalicão, Felgueiras, Paredes, Vila do Conde e Póvoa de Varzim.
Algarve
De acordo com Vítor Veloso, a responsabilidade do programa de rastreio do cancro da mama "é de cada uma das ARS". No Algarve, o programa é executado pela ARS do Algarve em parceria com a Associação Oncológica do Algarve (AOA) e o Centro Hospitalar Universitário do Algarve. Segundo o site da AOA, o rastreio foi retomado a 17 de junho.