Um ensino mais orientado para a realidade do dia-a-dia, um ensino superior com mais cursos em ciclos noturnos e formação para trabalhadores já inseridos no mercado de trabalho são medidas que promovem a transformação na educação, segundo os oradores na conferência "o Futuro do trabalho visto pelos jovens" realizada esta segunda-feira no Iscte, em Lisboa.
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Segundo o presidente executivo da Fundação José Neves, Carlos Oliveira, metade da população portuguesa tem, no máximo, o ensino básico, quase metade dos empregadores têm no máximo o 12º ano mas, atualmente, os jovens estão mais qualificados do que nunca.
Na conferência "o Futuro do trabalho visto pelos jovens", que decorreu no Iscte, em Lisboa, o terceiro painel procurou dar resposta à questão "Que transformações temos de fazer na educação para melhorarmos as qualificações dos portugueses e o nosso desenvolvimento económico e social?".
De acordo com Diana Madeira, investigadora na Universidade de Aveiro, a resposta passa por mudar a forma de ensinar: o ensino deveria ser mais focado em ensinar skills, em detrimento de transferir conhecimento. Para além disso, segundo a investigadora, o ensino deveria ser mais personalizado.
João Pedro Videira, presidente do Conselho Nacional de Juventude, sublinha que existe uma incompatibilidade no que toca à frequência universitária de jovens trabalhadores e, por isso, sugere que deveria existir "mais formação em ciclos noturnos" e uma maior adaptação às necessidades dos estudantes por parte dos empregadores. Para além disso, segundo João Pedro Videira, existe uma mentalidade em Portugal de "tenho de fazer uma licenciatura" frisando que os Cursos Técnicos Superiores (TeSp) "também são uma opção".
Face a isto, Carlos Oliveira acrescentou que metade dos estudantes conclui o 12.º ano através da via profissional - "não é por vocação, mas deveria ser". O presidente da Fundação José Neves sublinhou também a importância de "dar competências a pessoas mais velhas no mercado de trabalho". De acordo com Carlos Oliveira, Portugal é o último país da União Europeia que dá menos formação às pessoas já inseridas no mercado de trabalho.
Apesar de tudo, segundo a investigadora Diana Madeira, o ensino tem qualidade em Portugal, existindo uma clara evolução positiva. O presidente executivo da fundação José Neves responde que apesar de existir uma evolução, não estamos onde deveríamos estar. "O ensino superior tem qualidade em Portugal mas não chega", diz Carlos Oliveira.
Após o painel, o presidente Marcelo Rebelo de Sousa fez uma intervenção em que constatou que o país está "cada vez mais envelhecido", tratando-se de um "drama para a juventude" gerando um "problema de clivagem etária". O presidente deixou ainda a ideia de que muitos jovens são "lançados na precariedade", criando o termo "precariado" (precariedade + proletário) para descrever os "excluídos do mercado de trabalho, mal remunerados e sem proteção". O presidente disse ainda que é difícil mudar e por isso, cabe aos jovens "forçar a mudança" : "fazendo, inovando, discutindo, criticando".