Perante o desconhecido e a incerteza, a 21 de março de 1996, o então ministro da Agricultura Fernando Gomes da Silva anunciava a proibição de importação de carne de bovino e ovino do Reino Unido.
A notícia teve destaque na primeira página do Jornal de Notícias no dia seguinte, explicando-se que a decisão era assim tomada por Portugal enquanto a Comissão Europeia não definia um protocolo comum para os Estados-membros. Em causa, recorde-se, a BSE - Encefalopatia Espongiforme Bovina, patologia neurodegenerativa fatal e que ficou conhecida como doença das "vacas loucas".
Na altura, o governante - que em plena crise das "vacas loucas" comeu mioleira de vaca num restaurante no Luxemburgo - reportava 27 casos em Portugal, mas todos anteriores a 1996. De acordo com a ASAE, o primeiro caso em território nacional foi diagnosticado em junho de 1990, mas só quatro anos mais tarde seria oficialmente reconhecida a BSE. Face ao aumento do número de casos e possível transmissão ao Homem, em 1996 era lançado o plano nacional de erradicação da BSE. Assegurando ainda Gomes da Silva, na referida notícia, que, à data, não tinha sido identificado nenhum caso da doença de Creutzfeldt-Jakob no nosso país.
Na mesma ocasião, a então ministra da Saúde Maria de Belém Roseira, era António Guterres primeiro-ministro, vincava que "quaisquer medidas a tomar serão definidas internacionalmente e não por cada país". Na altura, refira-se, o homólogo britânico admitia já óbitos por Creutzfeldt-Jakob. O prião foi identificado como o agente de transmissão da BSE, tendo as autoridades aconselhado a que não se ingerisse cérebro, olhos ou intestinos.
Já no dia seguinte, numa página dedicada ao assunto, o JN dava conta de um primeiro caso suspeito de morte por Creutzfeldt-Jakob: uma idosa de 75 anos, que havia sido internada no Hospital de São João, no Porto. Dia em que se publicava também uma notícia explicando não estar ainda provado o risco de contágio para humanos.
Como explica a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária no seu site, "na sequência da epizootia nos finais dos anos 80, início dos anos 90, surgiu em humanos uma nova variante da doença de Creutzfeldt-Jakob". Que, ao contrário da clássica que se manifestava em pessoas mais idosas, afeta sobretudo jovens. No nosso país, há registo de duas vítimas: um rapaz de 14 anos, que morreu em julho de 2007; e uma rapariga, que tinha 14 anos quando foi diagnosticada (2007) e que viria a falecer em 2009.