Orientações da DGS obrigam universidades a cortar centenas de camas nas residências
Distanciamento de dois metros, num parque em que mais de metade dos quartos são duplos, reduz oferta nas residências universitárias. Há instituições que perdem um terço dos lugares.
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A distância lateral mínima de dois metros entre camas em quartos com mais do que um estudante recomendada pela Direção-Geral da Saúde (DGS) vai fazer com que a já parca oferta de alojamento universitário reduza substancialmente. Instituições de Ensino Superior contactadas pelo JN admitem perdas de camas até um terço. 58% dos quartos nas residências são duplos.
As orientações, assinadas pela DGS e pela Direção-Geral do Ensino Superior, chegaram às instituições na noite de anteontem. Há muito solicitadas, "é uma evidência" que chegaram tarde, afirma o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão. No documento a que o JN teve acesso, além de "dever ser garantida uma distância lateral mínima de dois metros, não é "recomendada a utilização de beliches".
As instituições, que também ontem receberam indicações do Ministério sobre a organização do ano letivo, estão agora a fazer o levantamento. Sabendo, à partida, ser impossível fazer obras dado o curto espaço de tempo. Mas, pelas contas que vão fazendo, serão centenas as camas que deixarão de estar disponíveis, a maioria utilizadas por bolseiros.
Recurso a autarquias
Os politécnicos de Bragança e Setúbal apontam para uma redução de um terço. Em Setúbal, Pedro Dominguinhos estima uma perda de cem camas, menos um terço do total. "Vamos falar com as autarquias e com o setor social e privado para tentar encontrar soluções".
Em Bragança, repete-se a estimativa. "Temos 330 camas, todas ocupadas com alunos bolseiros e não chegava. Vamos perder um terço, eventualmente mais", afirma o presidente daquele politécnico. Pousada da Juventude? Diocese? "Está tudo esgotado. Só se for casas particulares",diz Orlando Rodrigues, lembrando que quando não consegue vaga numa residência, o bolseiro tem direito a um complemento de alojamento no valor de 175 euros.
O que obriga a cálculos. Por um lado, aumenta a despesa com Ação Social. Por outro, afunda as receitas das instituições. O presidente do Politécnico de Setúbal fez as contas e chegou aos 75 mil euros/ano.
Porto com menos 130
"Na generalidade, conseguimos cumprir os dois metros, mas vamos perder sempre camas, numa estimativa de 300", revela o reitor da Universidade de Coimbra, numa oferta de 1300 lugares. No Minho, o reitor Rui Vieira de Castro está agora a fazer um "levantamento exaustivo". Mas sabe estar perante uma "situação crítica", porque das 1400 camas, "90% a 95% estão em quartos duplos".
Em Aveiro, Paulo Jorge Ferreira está mais descansado, porque os quartos duplos "são uma fração diminuta". Já na Universidade do Porto, fonte oficial da reitoria apontou para uma "perda de 130 camas num universo de 1190", uma vez que as residências não têm muitos quartos duplos. O reitor de Lisboa, por sua vez, não vê problema em garantir os dois metros.
O JN tentou, sem sucesso, obter um comentário do Ministério do Ensino Superior.
Orçamento
Despesas sobem e instituições pedem reforço
Cantinas vazias, mas salários de funcionários para pagar. Residências, igual. Máscaras, produtos de limpeza, computadores, empresas de desinfeção, quadros digitais. Reforço da Ação Social. As instituições do Superior fazem contas às despesas que não param de subir. Enquanto em sentido inverso estão as receitas.
A pedido da Direção-Geral do Orçamento, devem fazer uma monitorização regular dos gastos. Mas nada lhes foi dito se serão ressarcidos. E a ver pelas dotações orçamentais que receberam para o próximo ano no início desta semana, nada está contemplado. "Nas dotações? Zero. É só dinheiro a sair. Devia haver um reforço. Alguma compensação financeira. Até junho, contabilizava um milhão de euros", revela ao JN o reitor da Universidade de Coimbra, Amílcar Falcão.
Na Universidade de Lisboa, a maior do país, o reitor Cruz Serra aponta para dez milhões. O Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos apresentou, aliás, a conta no Parlamento. "Até ao final do ano, apontamos para dez milhões de euros de aumento de despesas via covid-19, Ação Social e redução de receitas", quantifica o seu presidente.