Empresas e agências de recrutamento notam também um aumento acentuado de candidaturas de desempregados da hotelaria e restauração.
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É um fenómeno semelhante ao que se assistiu durante a crise da economia entre 2008 e 2013 e que, agora, se está, novamente, a evidenciar: o número de licenciados a oferecer-se para trabalho doméstico disparou com a pandemia. São os efeitos do desemprego, dizem as empresas que prestam serviços de limpeza e as agências de recrutamento, que também se refletem no boom de candidaturas de trabalhadores da hotelaria e da restauração. A procura, no entanto, excede largamente a oferta, até porque a crise também está a penalizar o setor.
2020 foi um ano mau para o negócio, marcado por quebras acentuadas na faturação e pelo inevitável lay-off, total ou parcial, decorrentes da diminuição da procura pelo serviço, que se verificou sobretudo no primeiro semestre. No entanto, foi um ano bom para alargar a base de recrutamento.
A House Shine, empresa que se afirma líder do mercado, tem um universo de cerca de um milhar de colaboradores, dos quais "cerca de 10%" com licenciatura, refere o gestor Cândido Mesquita. "Temos cada vez mais pessoas licenciadas a trabalhar connosco. Há até o caso - que estranhei por ser de uma área de estudo que não era tão afetada pelo desemprego - de uma engenheira civil que foi nossa colaboradora".
um Mal que vem por bem
Este que foi "um dos efeitos da última crise económico-financeira" está a fazer sentir-se nos dias de hoje, acrescenta Inês Troni, da BemMeCare, empresa especializada no recrutamento e na seleção de serviços domésticos. "Estamos a receber muitos currículos de pessoas licenciadas, que não foram colocadas nas suas áreas de formação ou de experiência, e que nunca trabalharam nesta área".
Particularmente durante o último trimestre de 2020, não houve mãos a medir para fazer face à quantidade de autocandidaturas, não só por parte de licenciadas, mas também de "trabalhadoras vindas do setor da hotelaria e da restauração que a crise atirou para o desemprego".
Na House Shine, "o número de pessoas vindas desse setor a voluntariar-se para trabalhar duplicou". Na Interdomicílio, rede de franchising especializada em serviços ao domicílio, o aumento foi tal que se tornou necessário desenvolver no site uma plataforma destinada à submissão de candidaturas, refere Hélder João: "Surgiu-nos uma fatia grande de prestadores com muitas competências que podemos vir a aproveitar no futuro".
Não por agora, porque a procura pelo serviço varia em função da gravidade da situação epidemiológica do país - quantos mais casos, menos clientes. "Esse é o lado negativo mas também temos o positivo: estamos com uma base de dados mais alargada e melhor, com mais competências. Há um mal, mas também há um bem, porque para podermos prestar um serviço de qualidade temos de ter boas empregadas", observa Susana Villa, da SVHome, empresa que atua no mercado do recrutamento, seleção, formação e colocação de empregadas domésticas.