Em 2021 e 2022, Portugal não teve qualquer caso de sarampo, depois de em 2018 ter registado 171 doentes. A redução aconteceu por toda a Europa e está associada à pandemia. Apesar dos anos de covid- 19, o país manteve a taxa de vacinação acima dos 95% e está entre os cinco melhores do Espaço Económico Europeu e Reino Unido.
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O relatório anual do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC, na sigla inglesa) sobre a evolução epidemiológica do sarampo, conhecido esta segunda-feira, indica uma diminuição de 99% dos casos de sarampo em 2022 comparativamente com 2018, no conjunto de 30 países que integram o Espaço Económico Europeu (os 27 da União Europeia, mais a Islândia, o Liechenstein e a Noruega) e o Reino Unido.
De acordo com o documento, divulgado a propósito da semana europeia da vacinação, a descida deveu-se "provavelmente às medidas de prevenção e controlo implementadas durante a pandemia de covid- 19".
Apesar dos resultados, o ECDC alerta que face à baixa taxa de vacinação em vários países "é provável que no futuro se observe um aumento no número de casos notificados de sarampo em toda a UE/ EEE".
Em comunicado, Andrea Ammon, diretora do ECDC, afirmou que, "no caso do sarampo, que é altamente transmissível, o vírus pode encontrar o seu caminho para se espalhar em bolsas de populações desprotegidas quando a cobertura vacinal é sub-ótima. Isto pode levar a surtos que podem criar um peso nos sistemas de saúde, inclusive em países que eliminaram o sarampo".
Em números absolutos, verifica-se uma tendência de descida desde 2018, ano em que se registaram um total de 17 822 casos nos 31 países europeus. Em 2019, foram 13 199 e no ano seguinte começou a sentir-se o efeito da pandemia: 2043 casos. A descida para números nunca vistos ocorreu em 2021 (57 casos) e em 2022 (127).
Portugal acompanhou a tendência: 171 casos em 2018, ano em que se registaram alguns surtos no Sul e na Madeira, 10 em 2019, 9 em 2020 e zero em 2021 e 2022.
O relatório do ECDC destaca que apenas cinco países (Portugal, Noruega, Hungria, Polónia e Eslováquia) tem uma taxa de cobertura da segunda dose de vacina contra o sarampo maior ou igual a 95%.
Em Portugal, a taxa de cobertura das primeira e segunda doses manteve-se muito elevada ao longo dos anos, embora tenha decrescido ligeiramente de 2018 para 2021 (-1%), tanto na administração da primeira dose como da segunda, indica o documento.
No conjunto dos países, os dados mostram que os bebés com menos de um ano de idade continuam a ser o grupo com maior incidência de sarampo. Tal ocorre porque "são demasiado jovens para serem vacinados e deviam, portanto, ser protegidos pela imunidade comunitária", salienta o ECDC.
Alerta para risco da reintrodução da poliomielite
Para assinalar o começo da semana europeia da vacinação, o ECDC divulgou também um relatório sobre a evolução da poliomielite entre 2012 e 2021. Nesta década, cerca de 2,4 milhões de crianças europeias não terão recebido as três doses de vacina no tempo devido.
Portugal está novamente entre os países com maior taxa de vacinação contra a poliomielite (99% em 2021).
"Embora a Região Europeia tenha sido declarada livre de poliomielite em 2002, o vírus continua a ser detetado periodicamente na sua forma selvagem ou como estirpes derivadas da vacina noutras regiões", refere o organismo europeu, assinalando que os métodos de vigilância adequados e a cobertura de vacinação geralmente elevada tem contribuído para que estes eventos esporádicos não resultem numa transmissão sustentada na UE/ EEE ou na deteção de casos humanos.
Andrea Ammon, diretora do ECDC, alertou que "enquanto existirem grupos populacionais não vacinados ou sub-vacinados nos países europeus e a poliomielite não for erradicada a nível global, mantém-se o risco de o vírus ser reintroduzido na Europa".