A chuva dos últimos dias fez cair a pique o risco de incêndio fora de época, segundo as informações do Laboratório de Fogos Florestais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).
Corpo do artigo
Aquele laboratório considera que, do ponto de vista do fogo, a seca praticamente terminou no dia 9 de março e que a saturação de humidade do combustível será total em poucos dias.
"Tendo em atenção os índices do perigo de incêndio e secura da vegetação, relacionada com precipitação, estamos com valores na casa dos 5 a 10% no Norte e Centro, ou seja estamos numa situação invulgarmente húmida para a época", explicou Paulo Fernandes, investigador do ForestWise Colab da UTAD.
O investigador sublinha que "a seca sob o ponto de vista dos incêndios florestais está resolvida para já", mas o mesmo não sucede na agricultura e nas reservas de água onde os problemas persistem. "No que toca à vegetação, a partir do dia 18 a seca deve aproximar-se dos valores médios para a época. Agora estamos com humidade mais alta do que em anos anteriores e a vegetação está à beira da sua saturação total por humidade", acrescentou.
Fogos de gestão
Os meses de janeiro e fevereiro caracterizaram-se por um elevado número de incêndios, nomeadamente 1400 nos primeiros 44 dias do ano. Todavia, Paulo Fernandes considera que "não podem ser considerados fogos graves" porque têm um impacto muito menor do que os do verão pois, na maioria dos casos, são relacionados com as atividades agrárias ou pecuárias.
"Têm origem na queima de restos agrícolas e florestais e para melhorar pastagens mas, mesmo quando escapam, são fogos que causam poucos danos porque ardem em condições benignas de humidade e temperatura, comparativamente ao verão", observou o investigador.
Atualmente, a legislação portuguesa consagra a figura dos Fogos de Gestão, que devem ser acompanhados pelos bombeiros para não deixar arder livremente. "Podem ter mais benefícios do que prejuízos, mas as pessoas oficialmente não os declaram", referiu.
O investigador prevê que em março e na maior parte do mês de abril não haja incêndios "porque não há condições propícias".
Janeiro seco
Nos primeiros 44 dias de 2022 ocorreram 1400 fogos, que consumiram 5564 hectares, a maior aérea ardida em 22 anos. O seu combate mobilizou 13914 operacionais e 4076 meios terrestres e 203 missões com meios aéreos. Janeiro de 2022 foi o sexto mais seco consecutivo, com quantidades de precipitação abaixo das médias e o sexto mais seco desde 1931, com um valor médio de precipitação de 13, 9 milímetros (o que corresponde a 12% do valor normal no período entre 1971 e 2000).