Mortes no lixo, na fronteira, no centro comercial. E uma conferência para tentarmos ter futuro.
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O dia deu os primeiros passos com uma daquelas histórias que acrescentam mais uma peça a um quadro, tão antigo como a nossa espécie, de pequenas-grandes tragédias, pequenos-grandes gestos para os quais é difícil, a quente e visto da bancada, encontrar explicação: em Belas, Sintra, o pai de uma mulher de 22 anos depositou o neto, acabado de nascer, num contentor do lixo. Acabado de nascer e acabado de morrer. Equipas de socorro haviam sido chamadas, encontrando um cenário de sangue numa casa na Rua Dona Luísa de Gusmão. Só no hospital, ao qual a mãe fugaz chegou em estado crítico, se soube que um bebé havia ficado para trás.
Outras encarnações da miséria humana: sexta-feira 24, à volta de 30 pessoas morreram na fronteira entre Marrocos e Espanha. Faziam parte de uma vaga de 2 mil migrantes subsaarianos. Mais uma. Tentavam algo melhor na Europa. Esta segunda-feira foi dia de protestos em Madrid contra uma ação em que estiveram envolvidos o exército marroquino e forças e organismos de segurança espanhóis.
De uma estirpe diferente e mais complexa de miséria humana falam estes números: a autarquia portuense revelou que a Invicta viu aumentar o número de pessoas sem abrigo, mais 140 do que em 2020, chegando em dezembro de 2021 às 730. Em todo o caso, prefiguram 7% do total nacional.
Como anda a guerra desenhada por Vladimir Putin? Entre bestialidades várias, esta segunda-feira terá registado um míssil russo a atingir um centro comercial em Kremenchuk, por onde andava à volta de um milhar de pessoas. Anunciou-se a morte de dez.
De novo por cá, mas com os olhos em todo o planeta, pensam-se soluções e tenta-se vislumbrar esperança no desafio maior para a nossa espécie. Este foi o dia de arranque, em Lisboa, da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas. Para desatar um nó do tamanho do lema do evento: "Salvar os Oceanos, Proteger o Futuro". Falou-se de economia baseada nos oceanos. Anunciaram-se stocks de pesca nacional dentro dos limites biológicos sustentáveis. Alertou-se para um uso "cada vez mais parcimonioso" da água. Neste particular, a ameaça de miséria, humana e não só, pode parecer mais distante - mas a sombra que projeta é avassaladora.