O país onde o "desenrasca" é quase lei ficou esta sexta-feira a saber que só por acaso da sorte ou da fé não se registaram dois acidentes aéreos desde o ano passado. O relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários, divulgado pelo Expresso, revela falhas no controlo aéreo e dois incidentes que felizmente não acabaram em tragédia. O ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, assume que o que se passou foi "grave" porque "matéria de segurança é sagrada", mas não deixou de manifestar confiança na empresa que controla o tráfego aéreo. O PSD quer ouvir responsáveis da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), no Parlamento.
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De acordo com o relatório, o primeiro incidente aconteceu na noite de 27 de abril de 2021 no aeroporto do Porto. A torre de controlo autorizou a descolagem de um Boeing 737 de carga quando na pista ainda se encontrava uma viatura "follow me" a inspecionar. Um ano depois, no aeroporto de Ponta Delgada, em São Miguel (Açores), um avião da TAP, com 180 passageiros a bordo, teve luz verde para aterrar, mas o piloto abortou a manobra quando se apercebeu que estava apenas a 280 metros de distância da carrinha de uma equipa de manutenção. Nos dois casos, refere o relatório, encontrava-se apenas um controlador na torre quando as regras de escalas e de segurança impõem a presença de mais elementos. O relatório, aliás, aponta várias falhas como registos de assiduidade e pontualidade manipulados ou a presença de televisões ligadas para ajudar a passar o tempo numa função que exige a máxima concentração porque as distrações se podem pagar com vidas.
"O relatório é muito importante para que possamos avaliar exatamente o que aconteceu e se os procedimentos adotados pela NAV após os incidentes foram suficientes ou não", comentou o ministro, deixando, no entanto, "uma palavra de confiança" à empresa "altamente respeitada e conceituada na Europa e no mundo".
O PSD foi célere a anunciar que vai chamar ao Parlamento responsáveis da Autoridade Nacional de Aviação Civil (ANAC), da Navegação Aérea (NAV) e do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e Acidentes Ferroviários (GPIAAF).
Menina usada como correio de droga
O dia também ficou marcado por duas decisões judiciais. O Supremo Tribunal de Justiça confirmou que o ex-presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira vai a julgamento por ter oferecido, em 2016 e 2017, bilhetes ao juiz Rui Rangel para assistir a jogos no camarote presidencial do estádio da Luz. O Tribunal de Setúbal decretou a prisão preventiva de Inês Paulo, a mãe de Jéssica, a menina de três anos brutalmente assassinada em junho. As perícias da PJ agora concluídas revelaram vestígios de droga na fralda da criança, indiciando que a criança era usada como correio de droga.
O juiz determinou a prisão preventiva por considerar que existe perigo de fuga, perturbação da ordem pública e continuação da atividade criminosa. A mulher, de 37 anos, é suspeita de permitir que a filha fosse espancada na casa onde estava sob sequestro, nunca denunciando as agressões nem levando a criança ao hospital deixando que agonizasse até à morte.
Um país a braços com o disparar do custo de vida, das taxas de juro e da inflação, teve ontem de continuar a assistir ao pseudo duelo entre primeiro-ministro e presidente da Câmara de Lisboa por causa da gestão política das cheias das últimas semanas. Carlos Moedas referiu não ter sido contactado pelo Governo. O chefe do Executivo não gostou de ter sido confrontado com o reparo e ripostou: ""Pergunte-lhe porque é que ele não me contactou a mim, que tive a casa inundada". O que levou o autarca a retribuir: "Não liguei ao PM porque o trabalho foi muito e estive a lutar ao lado dos lisboetas. Fui eleito pelos lisboetas e o primeiro-ministro tem que se habituar a isso". O presidente da República já pôs água na fervura: "É importante que os portugueses sintam que o poder está próximo. Quem está teoricamente mais distante - falo pela minha maneira de fazer [as coisas] - deve acompanhar o que se está a fazer nas autarquias. Mas cada um tem o seu estilo".
Ao cair da noite, António Costa pediu desculpas pela "expressão infeliz".