As tensões sociais são terreno fértil para o oportunismo e a violência nas ruas torna-se combustível para a demagogia. A morte de um cidadão às mãos da polícia e as suas ondas de choque são terreno fértil para o populismo maniqueísta de quem sobrevive à conta de ódio e divide o mundo em heróis e vilões.
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Quatro dias depois da morte de Odair Moniz, os tumultos continuam, alimentados por oportunistas de quadrantes opostos que ali veem uma oportunidade para brilhar, mesmo que à luz de carros queimados e bairros sequestrados. A violência nas ruas dá sinais de acalmar, ao contrário do confronto verbal que continua a escalar.
Uma queixa-crime contra André Ventura e o líder parlamentar do Chega, apresentada por vários cidadãos, incluindo a ex-ministra da Justiça Francisca Van Dunem, mereceu críticas do líder do Chega. Ao final da tarde, o Ministério Público confirmou que já tinha aberto um processo visando os dois políticos. “É apenas perseguição”, disse Ventura esquecendo-se que as palavras são tão provocatórias e perigosas como os atos.
Foi através de palavras e de mensagens na aplicação Telegram que uma milícia racista organizou e planeou um ataque a imigrantes no centro do Porto. A Polícia Judiciária conseguiu desmantelar o grupo violento intitulado “SOS Porto Invicta”, suspeito de pelo menos três violentos ataques com motivação xenófoba e racista.
Quem também está envolvido em polémica por causa de uma troca de palavras é o ministro da Defesa. Houve notícia de “insultos, impropérios e ofensas” proferidos por Paulo Rangel ao chefe do Estado-Maior da Força Aérea e outros militares na base aérea de Figo Maduro. Depois do Presidente da República já ter desvalorizado o caso, esta sexta-feira foi o próprio ministro da Defesa a desmentir as ofensas verbais. “Não aconteceu, de todo”, garantiu.
No meio de tanto caos e violência , a associação Vida Justa demonstrou ter responsabilidade e bom senso. Após a PSP ter autorizado que a contramanifestação do Chega terminasse no mesmo sítio e à mesma hora que a sua, previamente marcada, a associação decidiu alterar o seu local de chegada. “A manifestação dos bairros é pacífica e responsável, mesmo quando as autoridades não o estejam a ser”, justificou.