Corpo do artigo
O Ministério Público sofreu, hoje, mais um duro golpe na sua reputação. Atacado, nos últimos meses, em muitas das operações que visaram atores políticos, o organismo liderado pela Procuradora-geral da República, Lucília Gago, viu o Tribunal da Relação de Lisboa recusar o recurso que tinha apresentado para agravar as medidas de coação aos principais arguidos da “Operação Influencer”.
Mas esta decisão nem foi a pior notícia do dia para os procuradores, que, ao lerem o acórdão, ficaram a saber que os juízes desembargadores consideram que não há qualquer indício que Vítor Escária, ex-chefe de gabinete do primeiro-ministro António Costa, e Lacerda Machado, descrito como o melhor amigo do antigo secretário-geral do PS, tenham cometido o crime de tráfico de influências.
Até o presidente da República contribuiu para o “diem horribilis”. Num estilo muito peculiar, Marcelo Rebelo de Sousa, comentou sem comentar, ao afirmar que “começa a ser mais provável haver um português no Conselho Europeu, no próximo outono, em Bruxelas”. Para bom entendedor...
Bons entendedores são, no entanto, um bem escasso no Parlamento, espaço nobre, casa da Democracia, mas onde cada um ouve aquilo que mais lhe convém. No debate de urgência requerido pelo PS, a socialista Alexandra Leitão garantiu que entendeu, e bem, as palavras do primeiro-ministro Luís Montenegro sobre a descida do IRS e que não tem dúvidas que este enganou os portugueses. Aliás, não tem dúvidas que, “duas semanas após tomar posse, o Governo já perdeu a credibilidade”.
O ministro dos Assuntos Parlamentares, Pedro Duarte, tem, obviamente, entendimento diferente sobre o mesmo discurso e assegura que o Executivo está "a cumprir de forma rigorosa" o que tinha prometido em campanha, acusando os socialistas de terem querido "transformar uma notícia boa numa notícia má". O costume...
Costume começa a ser também a tragédia humana que mata migrantes africanos à procura da sobrevivência. Desta vez, foi no Norte do Brasil que surgiu um barco à deriva com oito cadáveres no interior. As autoridades suspeitam que o número de vítimas poderá chegar a 25, tendo em conta a quantidade de capas de chuva encontradas.
Sem motor e sem leme, o barco terá partido da Mauritânia com destino às ilhas Canárias, em Espanha, mas foi arrastado pelo vento e correntes marítimas até à costa brasileira. Todos os que seguiam a bordo morreram de fome e sede.
Morto estava igualmente um brasileiro, de 68 anos, que uma sobrinha levou, numa cadeira de rodas, até a um banco para levantar cerca de três mil euros de um empréstimo. Mesmo sabendo que o tio tinha perdido a vida há algumas horas, a mulher tentou que este assinasse os documentos que lhe permitiriam ficar com o dinheiro. Foi detida.