Por cá, a campanha corre sem grande intensidade. Mas, a nível europeu, debate-se como nunca a possibilidade de a direita radical populista e mais extrema ter mais deputados do que qualquer outra família política. A grande novidade do dia, no entanto, é o lançamento do EUVoto no seu JN.
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Foi um dia quente, com as praias cheias de gente. O povo parece mais interessado em mergulhar no mar do que na campanha. E terá todas as razões e mais algumas para o fazer. Ciente de que a maioria dos cidadãos passa ao lado da propaganda política, o JN dá um contributo para o seu esclarecimento, com o lançamento, esta quinta-feira, do EUVoto, versão portuguesa do VoteMatch Europe, “uma ferramenta que permite descobrir quais os partidos que melhor se alinham com as suas opiniões”.
Depois de dar a sua opinião sobre uma série de declarações, os resultados vão apresentar-lhe uma lista de partidos. O que estiver no topo é aquele com o qual tem mais posições em comum. No fundo, vai ajudá-lo a perceber com que partido, ou partidos, vai à bola.
O EUVoto foi desenvolvido por uma equipa da Unidade de Investigação em Governança, Competitividade e Políticas Públicas da Universidade de Aveiro, em colaboração com a ProDemos – House for Democracy and the Rule of Law, uma fundação independente cujo objetivo é educar as pessoas e incentivar o envolvimento na democracia.
Feitas as apresentações, pode experimentar o EUVoto aqui. Mas talvez só depois de ler o que resta desta newsletter.
Direita extrema continua a crescer
Se o leitor do “Radar Europa” for um europeísta (moderado ou convicto), se acredita nas vantagens de maior integração europeia, se concorda com a aposta nas políticas ambientais, tem razões para ficar preocupado. Se, ao contrário, quer o regresso a uma Europa das nações, se acredita que estamos a sofrer uma invasão de imigrantes, se quer acabar com o Pacto Verde Europeu, tem razões para estar satisfeito. Isto porque, à medida que se aproxima o dia das eleições, é cada vez mais forte a probabilidade de os partidos da direita radical populista e da extrema-direita, todos somados, obterem mais deputados do que qualquer outra das grandes famílias políticas europeias.
De acordo com o agregador de sondagens do site politico.eu, a amálgama de partidos mais à direita poderá chegar aos 184 deputados. Para além dos dois grandes grupos já existentes no Parlamento Europeu, os Conservadores e Reformistas (ECR, onde estão os Irmãos de Itália de Giorgia Meloni, ou o Vox de Espanha) e o Identidade e Democracia (ID, de que fazem parte a União Nacional francesa de Marine Le Pen, ou o Chega de André Ventura), que neste momento somariam 144 deputados, há que contar ainda com mais cinco partidos extremistas, com destaque para a Alternativa para a Alemanha e a União Cívica Húngara (Fidesz) de Viktor Órban.
Serão muitos, mas estão divididos
A confirmar-se essa soma de 184 deputados, seriam mais numerosos do que os 170 do Partido Popular Europeu (centro-direita, onde estão o PSD e o CDS), ou os 144 dos Socialistas e Democratas (centro-esquerda, de que faz parte o PS). Acresce que as famílias dos liberais, dos verdes e da Esquerda Europeia, estão todas em perda, em particular as duas primeiras, que fizeram muitas vezes parte de maiorias que aprovaram legislação fundamental nos últimos cinco anos.
É praticamente impossível que estes 184 deputados se juntem num único grupo parlamentar. Mesmo dentro dos dois grupos clássicos da direita radical populista (ECR e ID), são imensos os sinais de divisão: na última legislatura europeia, destacaram-se por terem sido os grupos onde houve maior dissidência interna, na hora de votar. Mas, apesar dessa fragmentação, não há dúvidas de que haverá uma viragem à Direita. Um fenómeno que já foi abordado pelo JN, como poderá ler aqui com mais detalhe.
Futuro nas mãos de duas mulheres
A união destas diferentes direitas pode ser difícil, mas está a ser tentada. Marine Le Pen (União Nacional, França) aproveitou recentemente uma entrevista a um jornal italiano para desafiar Giorgia Meloni (Irmãos de Itália) a formar um supergrupo da direita radical. Note-se que os seus partidos lideram destacados as sondagens para as europeias nos respetivos partidos e que, somadas, representam várias dezenas de eurodeputados.
Viktor Órban, uma espécie de proscrito da política europeia, quer pelo regime autocrático que foi construindo na Hungria, quer pelos constantes bloqueios quando estão em causa sanções à Rússia, ou ajudas à Ucrânia, saiu agora em defesa desta aliança, numa entrevista ao jornal francês “Le Point”. E reconheceu o papel liderante de Le Pen e Meloni: “O futuro do campo soberanista, e da Direita em geral, está nas mãos de duas mulheres” (se quiser saber um pouco mais sobre estas duas mulheres e, ainda sobre uma terceira, a líder da Alternativa para Alemanha, Alice Weidel, leia este trabalho já publicado pelo JN).
Órban, político astuto, não está na verdade demasiado preocupado sobre a possibilidade de haver um supergrupo, ou dois, ou até três grupos mais pequenos. O que conta é a soma de deputados. Como diz Jordan Bardella, agora o líder do partido de Le Pen, mais importante do que a família política de cada um é “conseguir uma minoria de bloqueio”. Ou, como detalha Jorge Buxadé, do Vox espanhol e vice-líder do ECR, há que identificar pontos em comum, que permitam uma alteração nas políticas europeias. A saber: recuperar soberania nacional, alterar tratados, travar a imigração e acabar com o Pacto Verde Europeu.