Nesta segunda-feira sombria, é impossível não recordar 2017, o pior ano de sempre de incêndios em Portugal. Mesmo que a situação esteja muito longe da tragédia de há sete anos, ao ver imagens de pessoas a fugirem do fogo ou paradas em estradas rodeadas de chamas a inquietação voltou. Será que aprendemos alguma coisa?
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Pedrógão, 17 de junho. Região Centro, 15 de outubro. Estes dias estão colados na nossa memória com imagens que todos gostaríamos de apagar e, acima de tudo, de nunca mais vder repetidas no nosso país. Mais de cem pessoas morreram e 500 mil hectares de área ardida. Uma vergonha coletiva.
Nesta segunda-feira de fim de verão em que o calor puxado a vento encontrou no terreno seco as condições favoráveis à voracidade das chamas, deflagraram centenas de focos de incêndio nas regiões Norte e Centro. Duas pessoas morreram em Albergaria-a-Velha, depois de no domingo um bombeiro de S. Mamede de Infesta ter falecido de doença súbita numa pausa do combate às chamas em Oliveira de Azeméis. O número e a dimensão do incêndios levaram Portugal a acionar o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e, no âmbito dessa cooperação, chegam hoje dois aviões Canadair de Espanha e estão também previstos outros dois meios aéreos de França.
Naquele que é seguramente o pior dia deste ano, os incêndios devoraram dezenas de casas, deixando várias famílias desalojadas, cortaram autoestradas (A1, A17, A25, A29, A32 e A43), cancelaram comboios e autocarros, evacuaram edifícios, fecharam escolas e causaram cerca de 20 feridos. As situações mais graves foram vividas no distrito de Aveiro, mas foram registadas centenas de ocorrências nas regiões Norte e Centro. AQUI pode ler tudo o que se passa num trabalho em constante atualização.
O balanço final será feito mais tarde, mas sabe-se que a meio da tarde quase cinco mil operacionais combatiam 126 fogos. Além de Albergaria, Gondomar, Cabeceiras de Basto e Baião viviam momentos de grande aflição. As imagens são impressionantes, como poderá ver nesta galeria,
Em Albergaria, as labaredas atingiram pelo menos 20 casas, além de viaturas, dois armazéns e um escritório. Um edifício de Arte Nova datado de 1904 que funcionava como alojamento turístico foi destruído.
Em Baião, o incêndio que começou ao fim da manhã já terá consumido várias habitações e, segundo o autarca Paulo Pereira, é dos maiores do concelho.
Em Gondomar, as chamas obrigaram, ao início da tarde, ao corte da A43, a partir do nó de Gondomar Este. Na localidade de Jovim, três casas e um anexo arderam e foram evacuados por precaução dois lares e duas escolas.
Neste dia marcado pela tragédia dos incêndios há outra morte a lamentar: a de um militar de 25 anos, natural de Santarém, colhido por um helicóptero na base aérea de Maceda, em Ovar. O jovem foi atingido por um pneu no tórax, no momento em que a aeronave estava a ser rebocada.
No Porto, o trânsito que já é normalmente difícil numa segunda-feira, principalmente agora quer as aulas recomeçaram em força, estava especialmente caótico e milhares de pessoas sentiram dificuldades acrescidas para chegar ao seu local de trabalho. Motivo: a greve dos trabalhadores da Sociedade de Transportes Coletivos do Porto (STCP) que deixou muitos portuenses apeados, apesar dos serviços mínimos. E se hoje foi mau, amanhã não deve ser melhor já que a paralisação só termina às duas horas de quarta-feira. E, prepara-se, há mais períodos de greve até ao dia 17 de novembro.
Ainda no Porto, cuja Polícia Municipal conta desde agosto com 17 novos agentes, o presidente da Câmara considera que "é preciso investir mais na vigilância e na defesa da comunidade". Para Rui Moreira, este reforço "é claramente insuficiente para os atuais desafios de segurança urbana e rodoviária do Porto". A Polícia Municipal tem atualmente 200 efetivos, mas o autarca admite que o concelho necessita do dobro. "Este assunto tem sido alvo de promessas, foi alvo de uma reunião minha com a ministra da Administração Interna, mas, mais do que promessas, gostaríamos de ter empenho", sublinhou, adiantando que gostaria de ter "300 efetivos até ao fim do ano, início do próximo".
Para finalizar, duas sugestões: duas séries cuja qualidade ficou atestada com a conquista de vários Emmys. "Shogun", a série sobre o Japão em que os portugueses têm um papel importante, fez história ao ser a primeira série de língua não inglesa a vencer o Emmy de Melhor Série Dramática. Com 25 nomeações, venceu 14 nas categorias técnicas e quatro das mais importante da 76.ª edição dos galardões que premeiam o melhor que se produz em televisão. Retrato ficcional sobre o Japão do século XVI, "Shogun" tem no elenco o português Joaquim de Almeida e o luso-canadiano Louis Ferreira.
A outra grande vencedora foi "Baby Reindeer", a produção da Netflix que quebrou recordes de audiência quando estreou, em abril, e levou quatro Emmys na noite mais importante da televisão. "Obrigado à Netflix por me ter deixado contar esta história ao mundo", disse Richard Gadd, que venceu os Emmys de Melhor Escrita e Melhor Ator na categoria de Minissérie, série de antologia ou filme. "Há dez anos, eu estava no chão. Nunca pensei que conseguiria endireitar a minha vida", disse Gadd, que escreveu a série com base na sua própria experiência pessoal. "Digo isto como encorajamento para quem está a passar por um mau bocado neste momento, para que perseverem", acrescentou.