Corpo do artigo
A saúde está em pé de guerra em Portugal. Os médicos fizeram esta semana dois dias de greve e não chegaram a acordo hoje com o Ministério da Saúde. Na segunda-feira, os farmacêuticos fizeram um protesto no Porto. Hoje os dentistas manifestaram-se contra a precariedade frente à Assembleia da República. E também hoje o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses anunciou uma greve nacional para 10 de novembro. É a tempestade perfeita no SNS.
O encontro de hoje terminou sem acordo, apesar de a tutela ter apresentado por escrito a proposta detalhada, que alarga o regime de dedicação plena aos médicos de saúde pública, exigindo em troca um aumento da atividade e a participação numa escala para emergências com horas pagas em trabalho extraordinário.
Na reunião negocial da semana passada, o ministro da Saúde apresentou ao Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e à Federação Nacional dos Médicos (FNAM) uma proposta que prevê um novo modelo remuneratório e um suplemento de 500 euros mensais para os médicos que realizam serviço de urgência e a possibilidade de poderem optar pelas 35 horas semanais. Os médicos exigem aumentos na base salarial para todos os profissionais.
Recorde-se que o vencimento de um médico especialista (médico assistente), que trabalhe 40 horas semanais, é de 2.800 euros brutos (mais de 1.800 euros limpos) – e é nesta categoria que a maioria dos profissionais se inclui. A categoria seguinte, de assistente graduado, aufere 3.200 euros brutos e, no topo da carreira, um assistente graduado sénior pode ganhar entre 4.100 e 5.100 euros brutos por mês.
As negociações prosseguem na próxima semana. A FNAM tem agendada nova greve para os dias 14 e 15 de novembro, caso não chegue a acordo com o Governo.
Também hoje, os médicos dentistas protagonizaram uma manifestação inédita, frente à Assembleia da República, organizada pelo sindicato da classe, que vive “a maior crise laboral de sempre”. Há profissionais a ganhar 300 euros por mês, denuncia João Neto, presidente do Sindicato dos Médicos Dentistas, que exige a criação da carreira especial de médico dentista no SNS. O protesto alertou também a atenção para o paradoxo de Portugal ter o dobro dos médicos dentistas recomendados pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e, ainda assim, apresentar um dos piores índices de saúde oral da União Europeia. De acordo com o perfil português de saúde oral, lançado pela OMS em 2022, a percentagem de portugueses adultos com cáries não tratadas em 2019 foi 27,5% e o índice anual de incidência de cancro oral por cada cem mil pessoas em 2020 foi 9,1 nos homens e 1,9 nas mulheres.
Além da turbulência na saúde, esta quinta-feira está a ser marcada pela turbulência atmosférica. A passagem da tempestade Aline deixou um impressionante rasto de destruição. Cerca de 2200 ocorrências, em especial inundações e quedas de árvores, mas também habitações evacuadas e famílias desalojadas. A chuva intensa que caiu, desde o fim da tarde e princípio da noite de quarta-feira até hoje, provocou inundações em muitos locais da região Norte. Na cidade do Porto, pelo menos duas famílias, residentes na zona das Fontainhas, tiveram de ser realojadas pelos serviços camarários, depois de terem ficado com as casas inundadas, cenário que se repetiu também noutros pontos do concelho. O Coliseu também foi afetado e o concerto de Mayra Andrade, agendado para esta noite, teve de ser adiado para 6 de novembro.
O JN acompanhou ao longo de todo o dia os estragos provocados pela tempestade, de que pode ler uma síntese AQUI.
Mais a Sul, em Coimbra, três bares ficaram inundados e, em Loures, cinco pessoas tiveram de ser retiradas de casa.
Várias estradas foram cortadas, obrigando a operações de limpeza e drenagem, que envolveram as equipas de proteção civil de várias localidades, mas também cidadãos, anónimos e corajosos, como este homem de mobilidade reduzida que tentou desentupir, sozinho, a estrada de acesso à Via Panorâmica em direção ao Campo Alegre, no Porto.
Se tem curiosidade em saber porque é que as tempestades têm nome de pessoa e quem as batiza, leia este explicador.
A atualidade internacional continua dominada pelo conflito israelo-árabe, que pode ser acompanhado em permanência AQUI.
A Europa está em alerta por causa do risco de ataques terroristas. O suspeito de ter assassinado dois suecos na segunda-feira, em Bruxelas, e que entretanto foi capturado pelas autoridades belgas passou por Portugal. Abdeslam Lassoued tinha sido detido pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, em 2015, na Guarda, e libertado com termo de identidade e residência e apresentações periódicas – medidas que nunca cumpriu. A notícia foi confirmada ao JN por fonte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), que destacou o facto de, à data, não haver sinais de radicalização do indivíduo. Oito anos depois, este tunisino, de 45 anos, que também se encontrava ilegalmente na Bélgica, foi visto no centro de Bruxelas, vestido com um colete laranja fluorescente empunhando o que parecer ser uma AK-47 e a disparar contra diversas pessoas que vestiam camisolas com as cores da Suécia (nessa noite disputava-se o jogo de futebol Bélgica-Suécia).
Com o fim de semana quase à porta, fica uma sugestão de cinema, a estreia da última obra do genial Martin Scorsese, com dois dos seus atores-fetiche: Robert De Niro e Leonardo DiCaprio. "Assassinos da Lua das Flores" conta os brancos se aproveitaram da súbita riqueza dos índios Osage, na América de há cem anos. Veja excertos do filme a crítica de João Antunes AQUI.