A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto: 200 anos a construir o futuro
Nasceu por insistência do cirurgião-mor do reino, mudou de casa três vezes, afirmou-se como referência do ensino médico, acolhe a maior unidade de investigação clínica do país. Aqui estuda-se o que está para vir, estica-se a oferta, formam-se profissionais de excelência.
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É época de exames, manhã cedo, há dezenas, centenas talvez, de alunos a aguardar a entrada nas salas. Na biblioteca, o silêncio habitual e a cantina, com vista e porta para uma airosa esplanada, há de encher-se à hora de almoço. Cheira a fim de ano letivo, alguns finalistas e suas famílias circulam com orgulho, sorrisos, ramos de rosas amarelas, em poses para fotografias na parede com a palavra “Medicina” escrita de alto a baixo em caligrafia esguia, na entrada do edifício moderno que desagua numa casa com dois séculos de ensino.
A Faculdade de Medicina da Universidade do Porto (FMUP) celebra 200 anos. O aniversário é assinalado quarta-feira, 25 de junho, com uma cerimónia na Aula Magna, às 10.30 horas, e espetáculo musical na Casa da Música, às 21. O passado é imponente, o presente robusto, o futuro construído passo a passo.
No piso 6, junto aos elevadores, Harvey está deitado no seu meio corpo, boneco-modelo antigo que cumpriu a sua missão e descansa num móvel de vidro. Ao lado, uma porta e por cima uma frase a soar a convite: “Entre na realidade da simulação clínica”. Lá dentro, funciona o Centro de Simulação da faculdade. O futuro acontece aqui. Cristina Granja, médica, especialista em anestesiologia, professora, coordena este espaço com salas de simulação avançada. “Treinamos procedimentos e formas de atuar em manequins”, descreve. Treina-se também a comunicação em equipa ao manusear bonecos próximos dos humanos, antes de tratar doentes de carne e osso. “Numa tarde, podemos percorrer todos os sopros cardíacos e todos os sons pulmonares.” É possível simular um parto, uma laparoscopia, uma cirurgia, perceber ruídos que saem do corpo. No outro lado do piso, há um corredor com cheiro a novo, mais salas, equipamentos a chegar, e técnicos do INEM em vários exercícios de simulação.
Mais de 4500 estudantes passam os dias na faculdade, em instalações de arquitetura moderna, mais de 40 salas, laboratórios, por entre corredores de acesso ao Hospital de São João e ao edifício antigo com o exterior arranjado, a estátua de Ricardo Jorge ganhou ali pouso, e o átrio remodelado que recebe a exposição “A arte no ensino da Anatomia”, com desenhos e esquemas de partes do corpo feitos por médicos e docentes de fina sensibilidade. Na outra ponta, no átrio do Centro de Investigação Médica (CIM) da FMUP, está a exposição “BioFiligranas – Joias medicamente prescritas” da artista e investigadora Olga Noronha, que usa placas de fixação óssea e motivos inspirados na filigrana para criar peças de arte.
De um lado ao outro, corredores largos com painéis alusivos à história da faculdade, corredores mais curtos com vista para a associação de estudantes, para troféus ganhos pelas tunas, e uma sala de convívio onde está Joana Chaves, 26 anos, de Oliveira de Azeméis. Terminou há dias o estágio em psiquiatria no São João, tem o sexto ano de Medicina concluído, tudo feito, época de exames limpa. É com entusiasmo que conta como é inspirador cruzar-se com grandes mestres, pisar um chão onde se ganham asas. “Abrem-se muitas portas, abrem-se horizontes, um leque vastíssimo de oportunidades.” É uma vocação a ganhar corpo. “Somos um bocadinho ‘malucos’, queremos fazer mil coisas, e é muito gratificante perceber que podemos propor coisas fora da caixa e que os nossos tutores alinham connosco.”
O corpo técnico é constituído por 1169 docentes, cem de carreira, 1069 convidados que são pagos. Os tutores focam-se nos alunos. Nas aulas práticas, há um para quatro ou cinco estudantes, no 6.° ano para um ou dois. Hélio Alves, professor de Anatomia, vogal da direção da FMUP, fala em pedagogia de futuro porque é necessário esbater distâncias entre o SNS e o ensino universitário, diminuir lacunas, aumentar a eficiência do sistema, fazer pontes, investir em conhecimentos avançados, antecipar cenários. “Em 40 anos, a medicina mudou, é preciso ir atualizando, garantir que somos parceiros ao longo da vida, para médicos e não só, na inovação terapêutica, na inovação de diagnóstico”, sublinha. “Formamos profissionais de excelência e queremos que continuem de excelência.” Por isso, investe-se em plataformas para treinar casos clínicos, em simulações com doentes ou atores profissionais, no digital, em ferramentas de apoio à decisão. “Oferecemos toda esta paleta aos nossos estudantes.”
Os números mostram a dinâmica: 90 cursos, 28 ciclos de estudo, 13 programas doutorais, mais de 60 cursos de formação contínua, 434 diplomados em 2024, financiamento total de 30,3 milhões de euros. Mostram exigência também, em 2024, estava no top 25 dos cursos com notas de entradas mais elevadas. E ainda novidades na oferta educativa. Em outubro, abrirá o mestrado em Assistência Integral em Urgências e Emergências, em parceria com o Instituto de Estudos Médicos de Barcelona, com os mais atuais e modernos modelos de simulação, em cenários de submersão e altitude, por exemplo. E há uma nova licenciatura em Ciências da Saúde Pública em perspetiva.
Este ano letivo, arrancou a licenciatura em Saúde Digital e Inovação Biomédica. Diana Galhardo tem 18 anos, é do Porto, está a terminar o primeiro ano desse curso que se estreou com 40 vagas, todas preenchidas. Durante o Secundário, adorava biologia, não se via médica, inclinava-se mais para bioengenharia, a mãe falou-lhe no curso, informou-se, era isso. “Uma área que está em alta, a crescer, que ia de acordo ao que procurava, essa ponte entre a saúde e a tecnologia.”
Estava ansiosa por conhecer os 39 colegas. “Estou a gostar imenso, é uma experiência importante, é um novo capítulo, uma área que não se deixa ficar estagnada e em que é preciso investir. Há sempre projetos a surgir.” Agrada-lhe o curso ser abrangente e exigente e de lhe permitir perceber a realidade clínica para aplicar a tecnologia da maneira certa. É presidente da comissão do curso, faz a ponte entre alunos e docentes.
Investigação na academia, o coração das grávidas
A vontade de futuro é evidente. A FMUP acolhe a maior unidade de investigação clínica do país, o RISE-Health com 1349 investigadores, 637 dos quais integrados, ou seja, doutorados que dedicam 20% do seu tempo à investigação. Uma fusão de quatro unidades, que junta faculdades, institutos politécnicos, escolas de enfermagem, hospitais públicos e privados, centros de saúde. A aprovação é recente, de abril deste ano. “Trazemos a investigação para dentro da faculdade e isso tem grandes vantagens. Os nossos estudantes de doutoramento são os potenciais investigadores. Criamos condições e temos massa crítica”, adianta Fernando Schmitt, patologista, professor, diretor do RISE, visivelmente satisfeito com a nova estrutura.
São 12,4 milhões de euros de financiamento para cinco anos, 35 grupos de investigação, sete linhas temáticas. “Uma rede preparada para desenvolver investigação biomédica interdisciplinar de elevada qualidade em várias áreas científicas e clínicas, desde as ciências cardiovasculares às neurociências, metabolismo e farmacologia clínica”, salienta.
A seu lado Francisco Cruz, subdiretor da FMUP, professor, urologista, destaca o papel do RISE. “Preservar a área de investigação clínica pode trazer vantagens para os doentes a curto prazo, dar rapidamente resposta a doenças que ainda não têm tratamento adequado”, refere, realçando o aumento de publicações citáveis nos últimos anos. É um sinal que mostra dedicação e esforço. “A investigação é uma espécie de mina, de encontrar o ouro, estamos sempre a pensar noutros filões para tentar manter esta dinâmica.” Não poderia ser de outra maneira. “Temos de pensar na geração seguinte, o futuro está nos mais novos, estamos a produzir vivência com muita qualidade. E temos uma coisa que poucos têm que é esta ligação direta ao Hospital de São João.” E um comentário a rematar. “Um hospital universitário tem de ter regras diferentes porque ensina e faz investigação.” É o que acontece a dois passos dali, na sala de cirurgia experimental, onde se estudam animais de grande porte.
Mais acima, no piso 6 do edifício poente do CIM, está Inês Falcão Pires, investigadora, professora, com doutoramento feito na FMUP, bióloga de formação. Em 2019, deu início ao projeto PERIMYR para estudar o coração de grávidas, antes e depois do parto, para analisar a insuficiência cardíaca. “O coração aumenta de tamanho durante a gravidez e a seguir ao parto volta ao normal.” Recupera a sua estrutura e função habituais, é o que se chama remodelagem reversa.
Inês Falcão Pires foi acrescentando camadas de complexidade e o projeto continua, mais de 300 grávidas, cinco momentos de avaliação não invasivos, recolha de sangue e urina em determinados períodos, para perceber como o coração se comporta e analisar fatores de risco cardiovascular como hipertensão arterial, obesidade e diabetes, desde o primeiro trimestre de gestação até um ano após o parto. Já há resultados: as grávidas hipertensas são as que pior recuperam. O estudo é ambicioso e quer prolongar-se no tempo para perceber se, quando as mulheres chegam à menopausa, há fatores que indiciem doença cardíaca no futuro. A investigadora sabe a relevância do que tem nas mãos, nota-se o gosto pela pesquisa. “Ser cientista é levar trabalho para casa. E não me deixam fazer nada que não seja clinicamente relevante.”
Na manhã da nossa visita, houve sessão da comissão de ética do RISE-Health na sala dos conselhos, na longa mesa com a tapeçaria “Alegoria à medicina”, de Guilherme Camarinha, ao fundo, do tamanho de uma parede. Nesta sala, no piso 3, há obras de arte, como um autorretrato de Abel Salazar, mobiliário restaurado. Altamiro da Costa Pereira, diretor da FMUP, faz uma pausa antes de almoço. Dias antes, juntou nesta sala estudantes que terminaram o curso em 1954 com alunos da geração mais nova. “A maior riqueza da faculdade é a categoria dos estudantes que atrai, as condições têm de ser as melhores, e sentir o pulso das coisas é fundamental.”
O diretor fala da história, de fazer pontes, de abrir novos cursos, de criar uma zona cultural com um museu de ciências da saúde na cerca da faculdade e do São João, da posição de liderança no ensino, na investigação, na inovação. “Tento sempre ter uma visão do futuro”, garante. Anseia por uma faculdade mais abrangente e que se articule com os hospitais da Área Metropolitana do Porto. É adepto da destruição criativa. “Não conseguimos criar nada se não tivermos de destruir alguma coisa. O poder de sistematicamente recriar as coisas é contribuir para essa mudança todos os dias – todo o Mundo é composto de mudança, como dizia Camões”, observa.
Mais um dia na faculdade e João Ferraz, 19 anos, do Porto, está prestes a deixar de ser caloiro, a terminar o 1.° ano de Medicina. No fim do 12.° ano, deixou de lado a ideia da Academia Militar, escolheu a saúde. “Não me arrependi, gosto bastante de estar cá, é o certo para mim.” Por várias razões. “Começamos logo a ter contacto com a vida do hospital, a ver doentes, a criar esse hábito.” Gosta de estar na espaçosa sala de convívio, com micro-ondas à entrada, filas de mesas, pingue-pongue, bilhar e matraquilhos, pátio no exterior, e palco ao fundo, onde a tuna masculina ensaia às terças-feiras. João também vem. Toca violino e canta na tuna bastante viajada com digressão de verão a aproximar-se, este ano será na Ásia. Aprecia o convívio, as conversas, a troca de ideias com colegas de vários lugares. Quanto ao futuro, João tem os olhos postos na parte cirúrgica.
Sobrinho Simões entrou na FMUP há 60 anos, em 1964, eram 70 no curso. No 5.° ano, 72, apenas 14 raparigas. “O curso era uma realidade, quase uma ‘instituição’, constituída a partir do conjunto dos colegas. Ajudávamo-nos imenso, uns aos outros, estudando em grupo, usando um sistema de distribuição gratuita de apontamentos e de sebentas, descobrindo os truques dos professores e dos testes das aulas práticas, e protegendo os colegas mais frágeis das ‘feras’”, recorda. “Na altura, a medicina era uma profissão muito prestigiada e tínhamos orgulho em ser médicos.”
Muita coisa mudou, entretanto. “Desde logo o 25 de Abril e a entrada de mais de mil alunos por ano na faculdade durante algum tempo. A massificação do ensino pôs problemas dificílimos – lembro-me de desdobrar as minhas turmas práticas, procurando atenuar as limitações da aprendizagem.” As memórias são boas, muito boas. Como docente, lembra a relação sólida e estimulante com a Associação de Estudantes, a colaboração na organização das Jornadas Clínicas que finalizavam o curso, a institucionalização das sessões anátomo-clínicas na Aula Magna. Assim como a criação, do YES - Young European Students. “O primeiro encontro foi em 2006 e vamos ter este ano a 20.ª edição. É obra.” E acrescenta: “O YES Meeting especializou-se no desenvolvimento da investigação básica e investigação translacional associada à medicina - um exemplo excecional de qualidade na Europa”. 2025 é ano de celebrar. A pretexto do bicentenário, a Universidade do Porto presta homenagem a cinco figuras da FMUP: Júlio Dinis, António Plácido da Costa, José Leite de Vasconcelos, Luís de Pina e Daniel Serrão.
Peças anatómicas, bisturis de marfim
No Teatro Anatómico, aprende-se a vida e respeita-se a morte, estudam-se corpos doados à ciência, aperfeiçoam-se técnicas cirúrgicas em mais uma manhã de aulas. Alunos, professores e investigadores analisam órgãos, músculos, ossos, num espaço emblemático com salas, mesas de mármore. Noutra sala, vitrines com órgãos, peças anatómicas, um corpo com órgãos ao contrário, variação anatómica rara, uma porta que dá para um pequeno anfiteatro com estrutura de ferro antiga, da antiga faculdade, curvatura intacta, onde alunos assistiam a dissecações de corpos. O espaço continua a ser utilizado, em abril foi palco de concerto de violino e harpa, e tem um ecrã que permite, com um smartphone e uma aplicação, entrar no corpo humano para ver tal como é, em realidade aumentada e a três dimensões.
José Paulo Andrade, professor catedrático de Anatomia, é o coordenador dos museus da FMUP, conhece os cantos à casa, as suas peças e longa história. Sabe-a de cor. A 25 de junho de 1825, no reino de D. João VI, foi criada a Régia Escola de Cirurgia do Porto, por insistência do cirurgião-mor, tal como a sua congénere de Lisboa, com dez contos de réis de multas de tabaco vendido na ilegalidade. Cinco meses depois, cerimónia solene no edifício do Hospital Real de Santo António para o início do curso regular de Cirurgia num cantinho na ala sul-nascente, onde neste momento, e a propósito do bicentenário, está a exposição “A casa da medicina” com documentos, peças e instrumentos que retratam os factos mais significativos da vida e personalidades da FMUP. Anos depois, em 1883, o ensino passaria para um edifício em frente ao Santo António, conhecido por “chalé do brasileiro” pela sua traça arquitetónica, até se mudar para o São João em 1959.
O Museu de Anatomia está aberto ao público, recebe visitas de escolas todas as semanas, o espólio é digno de respeito. Quadros de Abel Salazar, busto de Vicente José de Carvalho, professor de Anatomia, e seu coração à vista, pedras da vesícula, apêndices de vários formatos, pâncreas, rins, corações de vários animais, crânios de bichos diversos doados por médicos que estiveram em África, um esqueleto de leão e o seu coração, crânio de pescada, esqueleto de uma senhora com 108 anos. Tudo à mostra. “Em 1860, a faculdade já tinha um catálogo com mais de 400 peças anatómicas”, conta José Paulo Andrade que acredita que “o percurso coletivo e o que se recorda deve contribuir para a construção do futuro.”
O espólio do Museu de História da Medicina Maximiano Lemos, fundado em 1933, com o nome do professor da faculdade, está no arquivo, na cave, a aguardar espaço para mostrar tão relevante património médico. O disco de Plácido, aparelho que permite avaliar a córnea, conhecido em todo o Mundo na oftalmologia de António Plácido da Costa, aluno e professor da escola do Porto. José Paulo Andrade explica com funciona e vai indicando outros objetos, bisturis de marfim, uma bacia de sangria, uma cadeira de sangrador, serras de amputação, clisteres antigos, microscópios do século XIX, livros do século XV, uma coleção única de cera com várias patologias dermatológicas.
De quando em vez, algumas peças saem dos museus da FMUP em colaborações, como já aconteceu com o Museu Militar do Porto e com o Museu Soares dos Reis. “Com atividades de cruzamento tentamos mostrar o nosso espólio.”
Cristina Granja formou-se na FMUP, esteve 22 anos em outros lugares, regressou. “Sou filha da faculdade com muito orgulho”, confessa. Os seus dias são passados na clínica e na academia. “Formar profissionais competentes é muito gratificante para nós, professores. Levá-los a gostarem do que estão a aprender é muito reconfortante.” No gabinete, há um cartaz da iniciativa “Salva Corações” que treina a população a atuar em caso de emergência, a próxima sessão será em julho na Academia de Música de Vilar de Paraíso, em Gaia.
Numa prateleira, está um troféu de uma competição internacional que quatro alunos de Medicina ganharam no ano passado na primeira vez que participaram, passando etapas e chegando à final numa simulação de um cenário de emergência na República Checa. Este ano, estão de novo bem colocados e dentro de dias partem para Valência, Espanha. A finalista Joana Chaves lá estará.
Aos sete anos, quando o avô materno morreu nos cuidados intensivos, ouviu a mãe dizer que não havia nada a fazer. “Queria ser médica, tinha aquela ideia romantizada do que é a medicina, sempre tive muita curiosidade de ver como funcionava, de querer ajudar os outros, e, de alguma forma, poder mudar o Mundo.” Joana fala de anos intensos, desafiantes, de experiências marcantes, num grupo de investigação desde o 3.° ano, de uma passagem pela associação de estudantes no 4.°. De muito estudo e descoberta. “A cruzar-me com pessoas absolutamente brilhantes nas suas áreas, pessoas de renome internacional que me inspiram. A faculdade também nos ensina a forma como devemos estar na vida.” E o futuro? “É uma tela branca a ser escrita, desenhada, pintada”, responde. Agora é tempo de se preparar para a exigente prova nacional de acesso, marcada para novembro. Na bagagem, leva todos os sonhos do mundo.