O Consultório de Jardinagem desta semana por Sofia Manuel, designer de jardins e autora de "A Tripeirinha".
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“Posso cheirar o manjerico ou só pôr-lhe a mão?”
Francisco Azevedo, por email
Andamos ou não andamos todos com esta questão? Todos os anos, por esta altura, há quem se aproxime de um manjerico com medo, como se fosse um botão nuclear prestes a ser ativado por um qualquer nariz alheio mais atrevido.
Vamos lá descomplicar e perceber se esta crença tem algum fundamento.Todos nós somos profissionais da famosa técnica do bate-bate com a palma da mão na densa cabeleira do manjerico, mas será que há razão para tal, além da crença de que uma narigada nas suas folhas possa causar danos irreparáveis?
A verdade é que, quando passamos ou batemos levemente nas folhas, os óleos essenciais libertam-se mais facilmente, o que torna a experiência de cheirar o manjerico bem mais rica. O seu aroma intensifica-se. Mas há quem leve esta técnica demasiado a sério, e acabe mesmo por causar microdanos devido às palmadinhas repetidas que o frágil manjerico vai recebendo ao longo do período de festas.E usar o nariz diretamente, dá?
Dá! Se for com jeitinho. Aproximar o nariz e não soprar nem babar o manjerico está completamente dentro das regras botânicas e do bom senso. De resto, não há qualquer risco de que dar uso ao seu nariz provoque uma murchidão súbita nesta planta tão amada.
Mas de onde veio então esta regra de “não cheirar diretamente”? Isto é metade botânica, metade crença popular. É provável que, nas festas, alguém muito orgulhoso do seu manjerico se tenha fartado de visitas indesejadas e tenha berrado algo do género: “Não enfie o nariz no meu manjerico, que o mata!”E pronto. O mito pegou.
E, na verdade, acho muito bem: em manjerico alheio, nada de meter o bedelho… ou o nariz.Ou, mais plausivelmente, talvez tenha sido uma forma de garantir sanidade disfarçada de tradição. Quem sabe? Talvez uma tentativa de evitar que meia cidade partilhasse os mesmos fungos e bactérias nas festas populares.
Concluindo: podem sim cheirar o manjerico diretamente, desde que seja com respeito, sem sopros dramáticos ou fungadas dignas de alergias primaveris.Seja de que forma for, o importante é não perder a oportunidade de aproveitar o seu magnífico aroma.
Até ao próximo consultório!